O Brasil é um “modelo agrário exportador”. Entretanto, esta máxima anacrônica e simplista, que torna todo um discurso pobre, não somos nós que afirmamos. Primeiramente, ela habita as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), alguns jornais e revistas. Alguns estudiosos “intelectuais” afirmam que o modelo exportador do agronegócio beneficia interesses externos, impede o acesso à terra e condena os brasileiros ao atraso. Além disso, dizem que implantou a monocultura de exportação em latifúndios, em parte improdutivos pelo acúmulo desnecessário de terras e cuja estrutura fundiária é concentrada e desigual. Favorecendo, assim, os grandes produtores em detrimentos dos pequenos e da produção familiar.
De antemão, esta narrativa é simplista e não abarca todas as nuances da realidade que devemos considerar, senão vejamos.
Modelo agrário exportador
Os produtos de exportação brasileira atendem, em primeiro lugar, ao grande mercado interno nacional e seus excedentes vão para o exterior. E mais: as exportações em nada comprometem o abastecimento do mercado interno e geram riqueza aos pequenos produtores.
De antemão, veja o exemplo dos sojicultores. Primeiramente, a soja representa 28,5% do PIB da agropecuária e 6,3 % do PIB nacional. São mais de 236 mil produtores em 18 estados, sendo que os pequenos agricultores com menos de 50 hectares de área imóvel representam 73% dos sojicultores (1). Além dos médios agricultores que representam 15% do total. Assim, cai por terra que os sojicultores são latifundiários.
(1) MIRANDA Evaristo. Revista Oeste, Edição 229, 2024. milho, café, carne bovina.
Produção brasileira
Em segundo lugar, a capacidade de produção brasileira, sendo o Brasil um dos maiores exportadores de commodities agrícolas, como a soja, milho, café, carne bovina. Sendo esta realidade, pois, resultado de uma combinação de fatores, como inovação tecnológica no campo e agricultores comprometidos com o país.
Dessa forma, devemos ter em mente que são os agricultores que impulsionam o desenvolvimento do Brasil. E utilizando uma máxima de Joel Mokyr, historiador econômico segundo o qual “o Estado e os governos não geram riquezas. Quem cria prosperidade são as pessoas e as empresas”. E os agricultores fazem a sua parte.
Em terceiro lugar, o agronegócio brasileiro não se limita apenas à produção. Ou seja, envolve uma cadeia produtiva robusta que inclui processamento e logística, que é um dos pilares fundamentais para a exportação e comercialização. Principalmente para China, Estados Unidos e União Europeia. Esta estrutura ajuda e dinamiza o potencial de exportação.
Visão reducionista
Nesse sentido, precisamos desmistificar e romper a visão reducionista da narrativa que o Brasil é um “modelo agrário exportador”. Entendendo, acima de tudo, a complexidade do agronegócio brasileiro e suas múltiplas dimensões.
Aliás, o Brasil não é apenas um exportador de commodities. Mas, também, um grande produtor de alimentos para o mercado interno. É importante destacar que muitos produtos, como, por exemplo, arroz, hortaliças e feijão, são consumidos localmente.
O agronegócio gera milhões de empregos e é uma fonte crucial de renda para muitas famílias. Essa realidade, inclusive, deve ser enfatizada para mostrar que o setor não serve apenas aos interesses externos.
Avanço
Além disso, o avanço tecnológico do campo não se limita à produção para exportação. Ele também melhora a eficiência e a sustentabilidade da produção interna e auxilia os pequenos agricultores. Como sensores e drones, aplicativos móveis que oferecem informações do tempo, do mercado de preços. E até mesmo de técnicas de cultivo, acesso a créditos e financiamento, cooperativas digitais etc.
Enfim, não apenas aumentam a eficiência da produção, mas promovem uma agricultura mais sustentável e rentável para os pequenos agricultores. Isto é, de forma a competir no mercado de forma mais igualitária e garantidora de melhores condições para suas famílias.
Embora o Brasil seja, sem dúvida, um importante player no mercado agroexportador, é essencial que reconheçamos que sua economia é muito mais complexa e diversificada.
Roberto Campos dizia: “O respeito aos produtores de riqueza é o começo da solução da pobreza”.
Em síntese, esta máxima reflete uma ideia importante sobre a relação entre o respeito à produção e a melhoria de condições de vida das pessoas. E, por fim, este respeito nós devemos àqueles que levam o Brasil nas costas – os agropecuaristas. Devemos ter uma visão mais holística do Brasil.