6º Fórum Café e Clima: condição climática adversa impacta safra de café

6º Fórum Café e Clima: condição climática adversa impacta safra de café

Fisiologia da planta sofre com calor e seca, que têm sido principais causas de insucesso da colheita no Brasil e em outros países produtores

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A colheita de café arábica no Brasil tem início em abril e termina em setembro, conforme a região. Entretanto, a cafeicultura é uma atividade que depende bastante dos fatores climáticos. E já é sabido que a condição climática adversa pode afetar a safra do grão.

Dessa forma, para entender melhor esses impactos na fisiologia do café, o professor de Fisiologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), José Donizeti Alves, vai palestrar sobre o tema no 6º Fórum Café e Clima.

Primeiramente, o encontro promovido pela Cooxupé será realizado no dia 31 de julho, das 14h às 17h, na matriz da cooperativa, em Guaxupé (MG). Ainda assim, o evento terá transmissão ao vivo e on-line pelo Hub do Café e pelo canal da Cooxupé no YouTube.

Em entrevista para o Hub do Café, o professor destaca as questões climáticas da região atendida pela cooperativa. E, em suma, faz uma análise da safra cafeeira de 2024 e fala das perspectivas para 2025.

Condição climática adversa

De acordo com Alves, apesar dos avanços tecnológicos, os produtores têm se esforçado nos últimos quatro anos para produzir café ao nível de 2020. Porém, não estão alcançando esse objetivo.

“Embora a produção tenha aumentado ano após ano, ainda não conseguimos superar a resiliência necessária para produzir mais do que naquele ano. Neste ano, quase chegamos lá. Mas as principais causas do insucesso continuam sendo o calor e a seca. Aliás, essas mesmas anomalias climáticas têm colocado de joelhos mais um gigante na produção de café, o Vietnã”, detalha.

Antes de mais nada, a Cooxupé tem atuação no Sul e Cerrado Mineiro, Vale do Rio Pardo (ou média mogiana do estado de São Paulo) e Matas de Minas. De antemão, neste ano agrícola, que começou em julho de 2023, o Departamento de Geoprocessamento da cooperativa registrou chuvas irregulares. Ou seja, alternando períodos de altos e baixos volumes nessas regiões.

“Essa alternância permitiu que os solos recuperassem e não sofressem déficits hídricos significativos. Enfim, pode-se dizer que, de julho a março deste ano, as lavouras não enfrentaram estresse hídrico relevante”, explica o professor.

Estresse térmico

Por outro lado, o docente da UFLA esclarece que o calor que persiste ao longo de 12 meses ininterruptos tem prejudicado as lavouras. Assim, afetando todas as fases do ciclo da cultura. Ademais, o Sismet da Cooxupé revelou que, em todos os municípios avaliados, as temperaturas máximas, mínimas e médias ficaram acima da média histórica ao longo do ano. E, nos meses mais quentes, a temperatura média foi cerca de 2,7°C acima da média, seguindo uma tendência global.

“Os dados evidenciaram que o estresse térmico foi o principal fator que impactou a produção de café nesta safra. Tanto em lavouras irrigadas quanto em lavouras de sequeiro, enfrentamos problemas como uma pequena janela de colheita de cerejas, maturação desuniforme e grãos miúdos com baixa percentagem de peneira 17/18”, resume.

Alves ainda fundamenta que essas anomalias do clima devem afetar negativamente a safra atual. Isso com várias lavouras apresentando quebras que variam de 20% a 30%. E, em alguns casos, até 50%.

“Por isso que afirmo que esses extremos climáticos colocaram de joelhos dois gigantes da cafeicultura mundial. Durante o 6º Fórum Café e Clima, analisaremos os impactos do clima adverso na fisiologia do café e seus reflexos na safra de 2024”, adianta.

Reação do cafeeiro

Para a próxima safra, o professor disse que ainda é cedo para fazer prognósticos. Entretanto, ele explica que é possível observar como o cafeeiro está reagindo ao calor e à seca até o momento. Apesar das condições climáticas adversas, o cafeeiro tem demonstrado grande resiliência em termos vegetativos.

“De acordo com os dados do Sismet Cooxupé, até fevereiro, as lavouras lançaram, em média, nove nós. Considerando que o cafeeiro continuou a crescer até o início de junho, esse número deve aumentar ainda mais. É importante lembrar que esses nós e folhas serão responsáveis pela produção da safra de 2025. Em média, cada nó lançado representa cerca de 6 sacas por hectare adicionais. Portanto, do ponto de vista vegetativo, lavouras vigorosas prometem, até o momento, uma boa produção”, ressalta.

Circulação de água

Em síntese, Alves considera relevante ressaltar que lavouras com parte aérea vigorosa estão associadas a sistemas radiculares volumosos e profundos. Aliás, do ponto de vista fisiológico, para mitigar os impactos de longo prazo do estresse térmico em plantas, há um único caminho a ser seguido. Isto é: promover a circulação de água no sentido solo-cafeeiro-atmosfera.

“Em outras palavras, precisamos ativar a transpiração para que ela resfrie a planta e reduza a temperatura das folhas. E a forma mais eficiente de fazer isso é mediante irrigação. Caso não tenhamos esse sistema, a principal estratégia é estimular o crescimento radicular em profundidade onde as raízes encontrarão água em quantidade suficiente para manter a transpiração e atenuar as altas temperaturas. Não há outra solução”, atesta o docente.

Nesse sentido, práticas que ativem a transpiração, reduzam a temperatura e preservem a umidade do solo devem ser implantadas. Bem como aquelas que estimulem o crescimento radicular e melhorem a absorção de água e nutrientes.

“Finalmente, estou preocupado com a seca persistente há mais de três meses, com a manutenção das altas temperaturas durante o inverno. Muitas lavouras já sofrem com a seca acentuada e apresentam sintomas de escaldadura, algo raro nesta época. Além disso, se chover nos próximos dias, os ramos abotoados vão florescer e um veranico na sequência pode ter consequências graves para a próxima safra. Vamos aguardar e, quem sabe, durante o 6º Fórum Café e Clima, teremos uma ideia mais precisa da situação”, conclui Alves.

Programe-se

6º Fórum Café e Clima da Cooxupé

Data: 31 de julho

Horário: a partir de 14h

14h: Abertura com a Diretoria Executiva da Cooxupé

14h15: Palestra de Guilherme Vinícius Teixeira, engenheiro agrônomo do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé. Tema: “As condições meteorológicas ocorridas na safra 2024/2025 e suas consequências nas regiões cafeeiras da cooperativa”.

15h00: Palestra de Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da empresa Rural Clima, sobre as previsões climáticas para a safra 2025 e como se prevenir da La Niña.

15h40: Palestra do Prof. Dr. José Donizete Alves, docente da Universidade Federal de Lavras (UFLA), sobre os impactos do clima adverso na fisiologia do café, além de análise da safra 2024 e perspectivas para 2025.

16h20: Debate

17h00: Encerramento


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