As conexões que o café especial proporciona

As conexões que o café especial proporciona

Através da SMC Specialty Coffees, diversos países compram produtos dos cooperados da Cooxupé; cliente dos EUA conta como é o relacionamento

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“Café especial é sobre alta qualidade e bons relacionamentos.” Quem trabalha com esse nicho já deve ter ouvido essa frase. Nesse sentido, quando se trata de um produto com valor agregado, diversos fatores além da pontuação e suas características sensoriais são levados em consideração. Assim, nada melhor do que o contato direto entre cliente e origem para a coleta de informações sobre a produção, práticas sustentáveis, projetos sociais, dentre outros. De antemão, são muitas as conexões que o café especial proporciona.

Ricky Dyson é um dos clientes da SMC Specialty Coffees, empresa controlada pela Cooxupé. Antes de mais nada, ele atua com seus sócios no mercado estadunidense. A empresa Idle Hands importa microlotes de cafés especiais e blends através da SMC. E, de antemão, demonstra grande satisfação tanto pela qualidade dos grãos quanto pelo atendimento recebido.

A seguir, confira uma entrevista exclusiva com Ricky. Na conversa, ele conta sobre a sua história profissional, a parceria com a SMC e as conexões proporcionadas pelos cafés especiais brasileiros. Aliás, o bate-papo saiu na Folha Rural.

Trajetória

1. Como e quando a sua trajetória no café se iniciou? Qual foi o ponto de partida e como tem sido hoje em dia?

Ricky Dyson: Iniciei minha jornada com o café logo após me mudar de Melbourne para Sydney, na Austrália, onde comecei a trabalhar como barista. E, nos 10 anos que se seguiram, aprendi sobre vários aspectos do setor.

De barista, fui a gerente da cafeteria, depois passei para a área de educação e treinamentos. Até chegar a funções de seleção de cafés em grão verde, controle de qualidade e classificação, como Q Grader certificado. Em seguida, mudei para os EUA e, no final de 2021, fundei junto a sócios amigos a Idle Hands Roasting Co. Mais recentemente, tornei-me juiz principal do prestigiado programa Cup of Excellence.

2. Como você conheceu a SMC? Quais as circunstâncias que criaram essa parceria?

Ricky Dyson: Conheci a SMC durante a edição de 2018 do Cup of Excellence, em Guaxupé, quando a Cooxupé sediou o concurso. Na época, pois, Maria Dirceia (gerente comercial da SMC) e Priscila (analista de comunicação SMC) nos acompanharam em algumas visitas a cooperados da Cooxupé. Dessa forma, ver a interação delas com as famílias e como falavam sobre o trabalho da cooperativa e da SMC me impactou positivamente. Eu fiquei bem impressionado.

Inclusive, a hospitalidade delas, de toda a equipe SMC e membros da cooperativa, realmente chamou a minha atenção. Assim que criamos a Idle Hands, fiz questão de me reconectar com elas e com um dos produtores que conhecemos em 2018. Desde então, temos negociados cafés especiais todos os anos.

Conexões

Ricky Dyson (de óculos) sempre visita fazendas e famílias produtoras de onde compra cafés especiais

3. Você costuma visitar a SMC e as famílias produtoras. Como foi sua experiência durante as visitas desse ano? Qual sua visão dos cafés especiais apresentados, produzidos por cooperados, e da produção brasileira em geral?

Ricky Dyson: Primeiramente, o Brasil é uma das origens de café mais fascinantes para se visitar. Sua tecnologia, principalmente nos processos de pós-colheita, combinada com sua geografia, práticas de manejo florestal e escala de produção, o diferencia. As medidas de sustentabilidade implementadas nas fazendas e nos sítios merecem todo reconhecimento.

Portanto, os cafés que obtenho por meio da SMC são sempre excepcionais. Especialmente aqueles com qualidades mais diferenciadas, com notas florais, delicadas, ou de frutas tropicais, exóticas. Em 2023, por exemplo, tive o privilégio de fazer parte do grupo de degustadores do Especialíssimo. Os cafés que provei durante essa seleção foram alguns dos meus favoritos do ano. Mesmo os perfis de café mais “tipicamente brasileiros” fazem sucesso com os consumidores norte-americanos. A diversidade de perfis de café do Brasil reflete, sobretudo, a diversidade do próprio país.

Qualidade e boas práticas

4. Do ponto de vista de um importador, tanto em termos de qualidade quanto sobre as informações que vão além da xícara, o que você e seus clientes costumam buscar em um café?

Ricky Dyson: Adquirimos, em primeiro lugar, uma variedade significativa de perfis de café para atender às preferências de nossos clientes. Alguns gostam mais de cafés com alta pontuação e complexos, frutados. Enquanto outros apreciam mais os clássicos, doces e achocolatados.

Ao selecionar os cafés, sejam eles do Brasil ou de outras origens, vamos além da busca exclusiva pela qualidade. A princípio, entendemos os desafios que os produtores podem enfrentar. É por isso que nos comprometemos a fazer compras contínuas das mesmas propriedades todos os anos. Isso com o objetivo de estabelecer parcerias de longo prazo que beneficiem os dois lados.

Por outro lado, práticas regenerativas têm sido importantes para nós, embora não seja uma regra ou pré-requisito. Pelo que aprendemos, essa abordagem parece representar o melhor caminho para a sustentabilidade, tanto econômica quanto ambiental. No fim das contas, queremos que nossos parceiros tenham sucesso.

Sustentabilidade

5. Quais sãos suas expectativas em relação ao futuro do mercado de cafés especiais?

Ricky Dyson: Primordialmente, penso em um mercado mais conectado em que os consumidores possam ter mais proximidade com a realidade da produção do café especial. Acredito que as medidas de sustentabilidade, os impactos ambientais, comunitários, sociais e econômicos serão cada vez mais importantes no portfólio do setor. Isso para cafés, torrefações, importadores, exportadores e produtores que dispõem de recursos.

6. Por fim, poderia deixar uma mensagem especial aos nossos cooperados e cooperadas?

Ricky Dyson: Para mim, a Cooxupé e a SMC estão entre as organizações do setor de café mais incríveis com as quais tive o privilégio de trabalhar. Definitivamente, seu compromisso com as famílias cooperadas, a dedicação desses produtores e produtoras à cooperativa e seu foco compartilhado em sustentabilidade, equidade e inclusão – que se apresenta de várias formas – são inspiradores.

Em suma, é sempre uma honra visitar e aprender com todos na cooperativa. Ver e comemorar suas conquistas em termos de qualidade da xícara, gestão ambiental e a constante busca por melhorias cria um senso de comunidade que se estende muito além. E acho que isso contribui para o sucesso do café tanto no Brasil quanto internacionalmente. Em conclusão, agradeço por tudo o que vocês fazem!