Beber três xícaras de café por dia pode reduzir risco de pressão alta
Estudo com 8.780 participantes concluiu que ingestão moderada da bebida pode reduzir em 20% risco de hipertensão
Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP relacionou o consumo de café e o risco de pressão alta.
E, principalmente, com base em uma série de critérios, como estilo de vida, exames de sangue e dados sociodemográficos. A conclusão é que a ingestão de uma a três xícaras de café por dia pode reduzir em até 20% o risco aos pacientes.
No total, 8.780 funcionários públicos participaram dos estudos, que foram detalhados, em fase final, na revista científica “Clinical Nutrition Journal” e publicados pela Revista Isto É.
Pesquisa
Inicialmente, a pesquisa usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil). Feito com 15.105 funcionários de seis instituições públicas brasileiras, como explica Andreia Miranda, pós-doutoranda da FSP.
“Através de um questionário específico foram obtidos dados sociodemográficos, como idade, sexo, cor da pele, renda familiar per capita, nível educacional. Além disso, também foram obtidos dados de estilo de vida, histórico médico-familiar, uso de medicação e avaliação do consumo alimentar”, diz.
Durante a pesquisa, sobretudo, houve a coleta de sangue para análises bioquímicas. Bem como também a aferição da pressão arterial dos participantes. Sendo que os indivíduos com diagnóstico de hipertensão foram excluídos no início da pesquisa, resultando em 8.780 participantes, acompanhados ao longo médio de quatro anos.
Pressão alta: método Estatístico
O estudo, contudo, agrupou os voluntários em quatro categorias: quem nunca ou quase nunca tomava café, quem bebia menos de uma xícara por dia, de uma a três xícaras por dia e mais de três xícaras por dia.
“Foi definido que o tamanho das doses de café é de 50 mililitros (50 ml), o que corresponde a uma xícara pequena”, relatou Andreia. “A presença de hipertensão foi definida com o valor de pressão acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio (mmHg), o uso de medicação anti-hipertensiva ou ambos”, conta.
Desse modo, para analisar a relação entre o consumo de café e o risco de hipertensão houve a utilização de um método estatístico, conhecido como regressão de Poisson, que permitiu calcular o risco relativo e o respectivo intervalo de confiança.
Tabagismo
A pesquisa apurou, ainda, que o consumo médio de café era de 150 ml por dia, o equivalente a três xícaras. Sendo que, prioritariamente, os participantes consumiam café filtrado (coado) e com açúcar, como ocorre habitualmente entre os brasileiros.
Todavia, durante o acompanhamento, um total de 1.285 pessoas desenvolveu hipertensão, sendo possível avaliar os aspectos envolvidos, como destaca Andreia. “Dessa forma, foi possível observar uma associação significativa inversa entre o consumo moderado de café e a incidência de hipertensão.
Assim, o estudo comparou riscos entre eles. Ou seja, comparativamente às pessoas que nunca ou quase nunca tomavam café, o risco de hipertensão foi aproximadamente 20% menor naqueles que ingeriam de uma a três xícaras por dia”.
De acordo com a pesquisadora, a chave para entender os benefícios pode estar nos compostos do café. “Estudos recentes mostram que o efeito benéfico do consumo moderado de café é atribuído aos polifenóis. Compostos bioativos que são encontrados em abundância nessa bebida”, considera.
Conclusão
Diante de uma verificação de interação significativa entre o hábito de fumar e a ingestão de café, houve novas análises mostrando vantagens para o grupo dos não fumantes. “Verificou-se, então, uma diminuição do risco de hipertensão somente em pessoas que nunca fumaram e tomavam de uma a três xícaras por dia”.
E em resumo, os resultados mostraram o efeito benéfico da ingestão de uma a três xícaras de café por dia e a importância de moderar o consumo dessa bebida para a prevenção da hipertensão”, pontua a pesquisadora.
Por fim, a pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e contou com a colaboração dos professores Alessandra Goulart, Isabela Benseñor e Paulo Lotufo, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário (HU) da USP e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e da professora Dirce Marchioni, da FSP.