Formação da lavoura de café

Preparo do solo e cuidados após o plantio são de fundamental importância para obter o sucesso esperado com a lavoura

Formação da lavoura de café

Preparo do solo

O preparo do solo para o plantio de café envolve: aração ou gradagem pesada, gradagem leve e abertura de sulcos mecanicamente ou covas manualmente. O calcário, quando necessário, deve ser aplicado em área total antes da gradagem leve. No sulco ou nas covas, além da aplicação do calcário novamente, deve-se aplicar os fertilizantes fosfatados e o composto orgânico. Após a aplicação dos produtos no sulco, é utilizado o batedor de covas, de preferência, ou o subsolador para misturar os fertilizantes, corretivos e composto orgânico no solo. O composto vai contribuir para melhor desenvolvimento das raízes e para maior tolerância à seca. O uso do composto orgânico é recomendado após o processo de compostagem, diminuindo o risco de “queima” das mudas. Os fertilizantes fosfatados, que são aplicados no sulco, devem ser preferencialmente de liberação mais gradual do nutriente, já que as raízes da nova planta de café gastam em torno de 2 anos para ocupar todo o volume de solo do sulco. Para o cálculo de quantidade de corretivos, fertilizantes e composto orgânico, é ideal procurar um profissional Técnico Agrícola ou Engenheiro Agrônomo.

O preparo do sulco pode ser feito próximo ao plantio. Se a área estiver com bom nivelamento, sua abertura pode ser feita sem a necessidade de aração e gradagem, evitando o revolvimento do solo e auxiliando no controle da erosão, já em caso de solo muito irregular, serão necessárias as operações antes da abertura destes. Após o fechamento, deve-se aplicar as aberturas das covetas, onde serão colocadas as mudas.

Preparo de sulco utilizando batedor de covas. Foto: Felipe Campos Figueiredo

É importante atentar-se ao sentido das linhas de plantio antes de abrir os sulcos. Se o solo for plano ou levemente ondulado, o ideal é que os sulcos sejam feitos próximos do sentido do caminhamento do sol, no sentido Leste/Oeste. Neste caso, as plantas tomam sol nos 2 lados, contribuindo para a fotossíntese e para a produtividade. No caso das lavouras que são plantadas no sentido Norte/Sul, o sol caminha cruzando as ruas de café, de manhã as plantas tomam sol de um lado e no período da tarde tomam sol do outro lado. Neste caso, o lado que toma sol a tarde pode sofrer escaldadura nas folhas devido à alta incidência dos raios, já o lado que toma sol pela manhã recebe pouco sol no período da tarde, assim, prejudicando a fotossíntese nos dois lados.

O preparo do solo envolve também o controle da erosão que, em uma área de plantio, pode causar o assoreamento e o arranquio de mudas. Quando feito na beira de estradas, uma prática importante é a construção de bacias de contenção para água da chuva, quanto maior a declividade, mais próximas devem ser as bacias. Esta prática contribui, não somente para o controle da erosão na lavoura, mas, também, com a conservação das estradas.

Plantio

O plantio das mudas no campo deve ser realizado o mais cedo possível, de preferência no início do período chuvoso, entretanto, dificilmente as mudas estão prontas para serem transferidas ao campo em outubro, este processo acaba sendo realizado somente em novembro e dezembro, que também são meses com altos índices pluviométricos. Os plantios realizados a partir de janeiro têm maiores riscos de sofrerem com a falta de chuva, tendo por consequência menos tempo para se desenvolverem. Geralmente, lavouras bem sucedidas já na primeira safra, com 30 meses no campo, foram plantadas mais cedo.

O plantio é uma operação muito importante que deve ser feita com muito capricho, desde o transporte até o manuseio das mudas. Neste, o cuidado deve ser redobrado para que não haja a desagregação do substrato e a muda possa se desenvolver perfeitamente. O ideal é que o transporte destas seja feito em caixas, desde o viveiro até a distribuição nas lavouras, evitando ao máximo quedas e excesso de contato, devido à delicadeza da muda. Uma prática recomendada para evitar a desagregação é manter o substrato bem úmido durante o manuseio.

No momento do plantio, quando está sendo usada muda de saquinho com substrato convencional, deve ser cortado o “pião” da muda no fundo do saquinho, pois esta raiz pode estar enrolada. Se a muda for plantada com o “pião” enrolado, a planta poderá apresentar problemas no desenvolvimento do sistema radicular, conhecido como “pião torto”, ficando mais superficial, pouco desenvolvido e com isto, a planta explorará um volume menor de solo, consequentemente sofrerá mais com falta de água e nutrientes e terá menor produtividade. Já no caso do plantio de mudas em tubetes, este corte não é necessário devido à poda aérea conforme já citado anteriormente.

A velocidade da operação de plantio também deve ser observada. Este processo deve ser feito com calma, pois a lavoura irá perdurar ao longo de 20 anos. Esta recomendação vale tanto para o plantio manual quanto para o mecanizado. Ao colocar a muda na coveta, é importante que o solo fique abaixo das folhas “orelha-de-onça”, cobrindo o substrato da muda, chamado de “tijolinho”, garantindo que as raízes não fiquem expostas ao sol.

Na retirada das mudas, deve-se verificar se estas estão aclimatadas, isto é, se foi retirado o sombrite e já estão à pleno sol. Este processo deve ser feio ainda no viveiro, permitindo a retirada do sombrite gradativamente. O recomendado é que esta retirada aconteça a partir do segundo par de folhas e feito ao longo de 30 a 45 dias, isto é, a cada 10-15 dias remover 1/3 do sombrite. Para que a aclimatação seja bem sucedida, deve-se enrolar as faixas desse no sentido perpendicular ao caminhamento do sol, de tal modo que as mudas recebam uma radiação do sol direta somente em uma parte do dia. Outra forma de aclimatar é através da retirada total do sombrite, sendo feita incialmente uma hora por dia e  aumentando o tempo gradativamente a cada 3.

Viveiro de mudas em fase de aclimatação. Foto: Vitor Helvécio de Resende

Neste momento, o produtor deve ficar atento também à sanidade das plantas. É importante observar se as mudas estão saudáveis e só levá-las para o campo as que não apresentem sintomas de doenças. Estas devem ir para o campo quando estiverem com 3 a 5 pares de folhas.

Para reduzir o risco de morte das mudas por falta de chuvas após o plantio, é recomendado o uso do gel, que são polímeros que absorvem água em até 400 vezes do seu peso e libera aos poucos para a planta. Existem 2 tipos de gel utilizados no café: um deve ser aplicado já hidratado após o plantio e, o que é aplicado em pó, misturado no solo da coveta, neste segundo caso, é importante atentar-se de não aplicar o produto concentrado no fundo da coveta, pois ao absorver água, o volume desta aumenta e pode empurrar a muda para cima.

Cuidados após o plantio

Caso não chova nos primeiros dias após o plantio, será necessário molhar a lavoura recém-plantada, evitando possíveis mortes das mudas. Caso a área seja mecanizada, vale a pena realizar esta operação, já nas áreas manuais sem o sistema de irrigação, o processo é mais difícil de ser realizado. A aplicação em torno de 2 litros de água por planta contribui para que o solo se organize em torno do substrato da muda e aumente a retenção de umidade.

Logo após o plantio, a primeira operação a ser realizada é a aplicação do herbicida pré-emergente na linha do cafeeiro, em torno de 70 cm de cada lado, conhecido como “trilha” do café. Este tipo de herbicida evita a germinação das plantas daninhas, reduzindo drasticamente o gasto com capinas manuais na lavoura. É importante que sejam utilizados herbicidas registrados para uso em café, que não causarão a intoxicação ou morte da planta.

Os herbicidas pré-emergentes devem ser aplicados com o solo úmido e livre de plantas daninhas. Caso já tenham germinado algumas ervas daninhas, se ainda estiverem bem pequenas, com aproximadamente 2 folhas, o herbicida terá efeito sobre elas. Caso estas já estejam presentes e desenvolvidas, cobrindo parte do solo, recomenda-se uma capina manual ou aplicação de herbicidas pós-emergentes primeiro.

A manutenção da trilha do café é fundamental para o bom desenvolvimento da lavoura. É preciso que ela esteja livre de mato, evitando a competição com o café por água e nutrientes. Quando o efeito do herbicida acabar e o mato voltar a aparecer na trilha, deve ser feita uma nova capina que pode ser manual ou através da aplicação de herbicidas seletivos. Neste primeiro ano, devido ao porte da planta, não é recomendado o glifosato devido ao risco de intoxicação. Tal herbicida pode entrar no manejo das plantas daninhas somente lavouras a partir de 1 ano de idade e deve ser aplicado em jato dirigido, utilizando bicos com indução de ar e, preferencialmente, com proteção, evitando a ocorrência de deriva e a intoxicação da planta.

Lavoura recém plantada com aplicação de herbicida pré-emergente. Foto: Luciano Scassiotti de Souza

Feita a aplicação do herbicida na trilha, é hora de cuidar da entrelinha, o meio da rua do café. Na entrelinha, o solo deve estar sempre coberto para evitar a erosão na lavoura. As plantas da entrelinha servem como quebra-vento para a lavoura, uma prática que ajuda no controle de doenças e melhora o aporte de biomassa. Para isto, o produtor pode usar a área entrelinha para cultivar alguma planta que dê retorno comercial, como feijão, milho, soja, entre outras diversas opções, garantindo uma renda extra no período de formação do café em que não há receitas desta área. No caso do plantio de milho, deve-se evitar o plantio em todas as ruas, pois no pendoamento, o seu pólen pode prejudicar o cafeeiro. Recomenda-se o plantio do milho em ruas alternadas.

Lavoura de café em consórcio com milho e arroz. Foto: Paulo César dos Reis

Outra alternativa para cuidar da entrelinha é o plantio das plantas de cobertura, que pode ser feito individualmente ou de forma misturada, fazendo um mix de plantas de cobertura. Individualmente, a espécie mais utilizada é a Brachiaria ruziziensis, que tem boa rusticidade e produção de biomassa, além disso, é facilmente manejada com glifosato. Outras espécies utilizadas no mix de cobertura são: Crotalárias, Feijão-Guandu, Trigo Mourisco, Milheto, Nabo Forrageiro, Ervilhaca, Aveias, entre outras, oferecendo benefícios como: fixação de nitrogênio, controle de nematoides, quebra-vento, ciclagem de nutrientes, supressão de plantas daninhas, descompactação, aumento da matéria orgânica, refúgio para inimigos naturais de pragas, melhoria da biodiversidade, aumento dos microrganismos benéficos e proteção do solo.

Lavoura em formação com plantio de mix de plantas de cobertura nas entrelinhas. Foto: Naihara Uniai

As pulverizações na lavoura recém-plantadas também são importantes para o controle de pragas e doenças e para nutrição da lavoura. Estas podem ser iniciadas logo após o plantio e devem ser repetidas a cada 30 dias. Para lavouras em formação, recomenda-se acrescentar nas pulverizações fungicidas, inseticidas, produtos com micronutrientes, aminoácidos e bioestimulantes, assim, auxiliando no desenvolvimento das plantas e reduzindo o estresse provocado pela mudança de ambiente do viveiro para o campo.

A partir da primeira pulverização, deve-se monitorar a lavoura para avaliar a incidência de doenças como Cercosporiose, Mancha de Phoma e Mancha Aureolada, além da infestação de Bicho Mineiro e Ácaro Vermelho, que são comuns nas lavouras em formação. Quando detectadas as doenças e/ou pragas, deve-se acrescentar fungicida e/ou inseticida específicos na pulverização. As pulverizações sequenciais devem ser feitas até abril. Durante o período seco, devem ser realizadas apenas pulverizações específicas caso sejam identificadas pragas e/ou doenças. A partir de outubro, iniciando o período chuvoso, quando a planta já está para completar 1 ano no campo, as pulverizações devem ser retomadas com os mesmos produtos, concentração e frequência. Lembrando que, para lavouras em formação, as dosagens dos produtos são feitas por concentração e não por hectare, pois a vazão ou volume de calda é muito menor.

Quando a lavoura está nos seus primeiros 20 a 30 dias, a recomendação é que se faça a primeira adubação de cobertura. Este processo precisa ser repetido a cada 30 dias até o mês de abril. Esta data simboliza o período em que as chuvas e a temperatura diminuem, sendo assim, as adubações passam a não ser mais viáveis, retornando somente a partir de outubro. Normalmente são recomendadas de 4 a 5 adubações de cobertura após o plantio.

Na adubação, devem ser utilizados fertilizantes com nitrogênio e se apontada a necessidade na análise de solo devem ser aplicados os demais nutrientes, como: potássio, magnésio, boro e zinco. Caso o solo esteja com baixo teor de boro, deve-se ter um cuidado extra com a aplicação deste nutriente, pois a planta ainda é muito pequena e pode ser intoxicada facilmente caso ocorra erro na dosagem do produto. Para o fornecimento de boro para lavouras recém-plantadas, é mais seguro utilizar fórmulas que já contenham o nutriente necessário.

As aplicações de fórmulas contendo nitrogênio também devem ser muito bem feitas. Quando aplicadas em dosagens acima do recomendado podem causar a desidratação e morte da planta. O ideal é que se aumente gradativamente as dosagens de fertilizantes nas adubações de cobertura conforme a planta vai crescendo, podendo variar de acordo com a porcentagem de nitrogênio da fórmula. Nas mais comuns como, por exemplo, 20-00-20, a adubação pode iniciar com aproximadamente 10 gramas por planta na primeira adubação e ir aumentando 5g sucessivamente a cada uma destas. O fertilizante deve ser aplicado em torno da planta a uma distância de aproximadamente 10 a 15 centímetros de seu tronco.

 A partir de outubro, quando a planta já está para completar 1 ano no campo, as adubações devem ser retomadas com a mesma frequência, a cada 30 dias. As dosagens aumentarão gradativamente conforme a planta cresce, caso seja usada a fórmula citada anteriormente, 20-00-20, pode-se reiniciar com 35 gramas por planta na primeira e seguir o modelo – 5 g a mais a cada adubação.

É importante ressaltar que mesmo com todos os cuidados tomados no plantio, algumas plantas vão morrer. Neste caso, o replantio é recomendado e deve ser feito em torno de 60 dias após o plantio. Quando a lavoura completar um ano de idade, é recomendado que seja feito um novo replantio, para que haja o mínimo possível de falhas na lavoura, que são um grande problema para os cafeicultores, pois além de não produzir o café, quase sempre os produtos e insumos são aplicados nelas, principalmente quando são mecanizadas.

A fase de formação da lavoura vai até os 18 meses no campo, ou seja, a partir de 18 meses após o plantio, o manejo já é considerado como lavoura em produção, pois nesta idade a planta já está se preparando para dar a primeira florada mais significativa e para sua primeira produção que acontecerá com 30 meses no campo ou 36 meses de idade se considerarmos a vida da planta no viveiro.

Foto: Larissa Lima

Foto: Fabrício Melo