Formação da Lavoura – Planejamento

A produtividade de uma lavoura cafeeira é o principal fator do sucesso de um cafeicultor. Por isso, são necessários muitos cuidados para a sua formação

Formação da Lavoura – Planejamento

O principal fator que contribui para o sucesso de um cafeicultor é a produtividade de sua lavoura, sendo assim, os cuidados na formação desta são pontos fundamentais para obter tal sucesso. Algumas falhas nesta fase da produção podem prejudicar toda a vida de uma lavoura de café, por outro lado, uma formação bem sucedida é a base para uma lavoura produtiva e com uma boa longevidade.

A longevidade também é um fator importante para o sucesso na cultura do café, pois o investimento financeiro para formá-la é alto. Dessa forma, quanto mais tempo manter-se produtiva, menor será o impacto do custo de formação e produção desta, sendo assim, seu custo de formação será diluído em mais anos. Exemplifica-se no caso: se o custo de formação de uma lavoura ficar em R$ 20.000,00 por hectare e essa ter a durabilidade de 15 anos, o custo anual será de R$ 1.333,33. Caso a durabilidade seja de 20 anos, o custo por ano cairá para R$ 1.000,00. Este custo de formação na gestão, geralmente, é considerado como investimento e entra na depreciação.

A partir da abordagem anterior, cria-se a relação entre: produtividade, longevidade e custo de produção, pilares que influenciam o sucesso ou fracasso na formação da lavoura.

Escolha da área

Uma boa formação da lavoura inicia-se na escolha da área onde será implantada. Isso porque o cafeeiro é sensível ao frio intenso e não deve ser plantado nos locais mais baixos do terreno, devido ao risco de geada. Normalmente, os produtores mais experientes já sabem onde não pode ser plantado o café, isto é, onde a geada costuma ocorrer com maior frequência. Não há um método preciso para identificar tal ponto, pois este depende das condições climáticas de cada ano e microrregião. Ao contrário do que se tem em mente, a altitude do local não é um fator suficientemente determinante para a ocorrência de geadas na área, essa pode ocorrer em lugares mais baixos da propriedade, independentemente de sua altitude. O método mais eficaz para reconhece tal fenômeno natural é o empírico, baseado na ocorrência ao longo dos últimos anos e na observação dos pontos mais baixos, que existem lavouras adultas nas propriedades vizinhas.

Outro fator importante na escolha da área é o histórico de produção. Normalmente, o café apresenta melhor desenvolvimento em solos onde não houve cultivo há bastante tempo. Isso porque no cultivo de outras culturas é comum o uso frequente de herbicidas, que deixam resíduo no solo por um tempo, prejudicando o desenvolvimento do café. Também é comum ver lavouras muito boas formadas em solos que antes eram pastagem, onde não se utilizavam herbicidas para manejo do mato. Havendo possibilidade, o ideal é que sejam escolhidas áreas que não foram utilizados herbicidas nos últimos anos.

O próximo passo é a medição da área, pois saber o tamanho é fundamental para um bom planejamento, principalmente do investimento financeiro que será necessário. A medição é um processo simples que pode ser feito por um profissional ou pelo próprio produtor, usando algum dos diversos aplicativos de mapeamento disponíveis.

Mudas

Alguns produtores optam por produzir as próprias mudas, porém a produção exige um conhecimento e mão de obra mais especializados. Quando produzidas pela própria fazenda, é importante que as sementes sejam compradas por fornecedores certificados para maior segurança e garantia da qualidade. Além disso, deve-se utilizar substrato isento de doenças e nematoides para evitar a disseminação na propriedade. O local para instalação do viveiro deve ter boa incidência solar e o proprietário deve seguir todas as orientações de um profissional com relação aos tratos culturais das mudas. Para atingir o ponto ideal de plantio, as mudas de café gastam em torno de 6 meses, assim, devem ser semeadas o quanto antes para que estejam prontas na época ideal de plantio, entre novembro e dezembro. Apesar das exceções, a maioria dos produtores opta por comprar as mudas prontas, produzidas por viveiros registrados e certificados pelos órgãos competentes do estado. Estes viveiros são fiscalizados e a comercialização das mudas só é permitida caso o viveiro atenda às exigências do órgão competente da região. Mesmo nestes casos, é importante encomendar as mudas com antecedência e combinar o prazo de retirada destas.

Existem diversos tipos de mudas disponíveis no mercado. Seguem abaixo vantagens e desvantagens dos principais tipos para facilitar a decisão:

Saquinho: é a muda convencional e mais utilizada. Feita com saco plástico, o substrato utilizado é a mistura de terra, esterco e fertilizantes. Os tamanhos mais comuns são 10 x 20 cm e 11 x 22 cm. Alguns produtores optam pelo saquinho com 80 furos, que permite o plantio da muda sem retirar o saquinho, corta-se apenas o fundo em torno de 2 centímetros para eliminar as raízes que podem estar enroladas e permitir o desenvolvimento da raiz pivotante. Outra vantagem é que o saquinho com 80 furos permite o plantio mecanizado. As raízes secundárias saem pelos furos. A desvantagem deste tipo de muda é o risco pós-plantio, pois em caso de menor volume de chuvas, a planta pode sofrer desidratação, o solo que está dentro do saquinho resseca e pode não obter troca com a umidade do solo que foi plantada.

Mudão: neste caso o substrato é o mesmo, porém o saquinho é maior. As medidas variam de 12 x 24 cm a 14 x 28 cm. Este tipo permite o plantio de mudas maiores e que foram semeadas mais cedo. Devido ao maior volume de solo no saquinho, o “mudão” tem melhor adaptação no campo, resiste mais à falta de chuvas e, consequentemente, tem chance de ter maior produtividade na primeira colheita em relação aos outros tipos. As desvantagens são o maior custo, gasto de frete e mão de obra no plantio.

Tubete: neste tipo, como o próprio nome já diz, é usado o tubete de plástico rígido como recipiente para comportar os substratos comerciais, próprios para formação de mudas. Os tubetes têm ótima uniformidade, sanidade e menor risco de disseminação de nematoides por não usar solo no substrato. Apresenta outra vantagem importante que é a possibilidade de realizar o plantio de forma mecanizada. As desvantagens deste tipo de muda são o maior custo e vulnerabilidade à falta de chuvas após o plantio, devido ao menor volume de substrato. Neste tipo de muda não é necessário cortar o “pião”, os tubetes ficam suspensos durante o desenvolvimento da muda, dessa forma ocorre a poda aérea do “pião” e a raiz cessa o crescimento quando fica em contato direto com o ar.

Muda de café em tubete. Foto: Cooxupé em Foco

Cultivar

Escolhido o tipo de muda, é necessário definir a cultivar que será plantada. Atualmente, existem mais de 100 cultivares de café registradas, mas nem todas são comuns nas lavouras comerciais. No parque cafeeiro, localizado no Brasil, predominam-se as cultivares Catuaí e Mundo Novo, por conta da boa adaptação nas diversas regiões produtoras. Outras cultivares também vêm ganhando espaço nas fazendas de café, principalmente por serem resistentes à ferrugem e nematoides, e por apresentarem boa qualidade da bebida e boa produtividade.

Catucaí 2SL primeira safra.  Foto: Éder de Oliveira

Aranãs segunda safra. Foto: Fábio Faria

A escolha da cultivar a ser implantada depende das características desejadas pelo produtor. Em áreas com presença de nematoides, por exemplo, é fundamental que seja escolhida uma cultivar resistente ou tolerante a tal, sendo este um dos principais métodos de controle.

A escolha da cultivar depende também de sua adaptação na região. Através da observação das lavouras em propriedades vizinhas ou em unidades demonstrativas de pesquisa existentes na região é possível verificar se a cultivar tem por boa adaptação na região. Caso o produtor pretenda plantar uma cultivar nova e não existe nenhuma lavoura desta cultivar na região, a recomendação é que seja plantada uma lavoura pequena, em caráter de experimentação, para avaliar sua adaptação e produtividade. Depois das primeiras plantadas, já é possível saber se a cultivar será produtiva e visualizar outras características importantes.

Atualmente já é comum encontrar lavouras com cultivares novas que apresentam maior produtividade em relação às tradicionais, Catuaí e Mundo Novo. Cultivares que estão em destaque são: Arara, Acauã Novo, Catucaí Amarelo 24/137, Paraíso 2, Catiguá MG2, IPR 100, IPR 106, IAC RN, entre outras. Todas elas com características desejáveis em relação à tolerância à ferrugem e aos nematoides.

A escolha da cultivar é importante também para o planejamento de colheita. Algumas têm maturação mais precoces, já outras, mais tardias em relação às tradicionais Catuaí e Mundo Novo. Na maioria das fazendas essa característica contribui para que se realize uma colheita em que a maior parte do café esteja no ponto ideal, maduro. Assim, obtém menor volume de café de varrição e, consequentemente, maior rentabilidade.

Neste site, clicando em “Cultivares de Café”, é possível conhecer as características de cada uma e selecioná-las de acordo  com o porte, maturação, resistência à Ferrugem, tolerância à seca e aos nematoides.

Espaçamento

Depois de definidos o tipo de muda e a cultivar, deve-se atentar ao espaçamento da lavoura, que é a distância entre linhas e plantas. É importante que faça este processo com antecedência, pois é por meio do espaçamento que será calculada a quantidade de mudas que serão plantadas na área.

Antigamente era comum usar espaçamentos mais largos com poucas plantas por hectare, em torno de 2.000 a 3.000 mudas. Neste caso, a produção por planta é maior e provoca um desgaste grande na planta, reduzindo a chance de ter uma boa produção no ano seguinte. Já nas lavouras que têm maior número de plantas por hectare, acima de 4.000, a produção por planta é menor e, com isso, sofre menos. Neste espaçamento, não é necessário que a lavoura tenha uma produção muito alta por planta para que o talhão tenha uma boa produtividade. Com uma produção média por planta, é possível obter uma produtividade alta na lavoura. Por isso, lavouras com maior número de plantas por hectare, tendem a ter menor bienalidade e maior produtividade.

O espaçamento mais indicado para cada lavoura depende, principalmente, do sistema de condução e de colheita, sendo mecanizado ou manual, e do porte da cultivar que será plantada. Para lavouras com condução manual, o espaçamento indicado é de 2,5 a 3 metros entre linhas. Enquanto, para lavouras com condução mecanizada, é de 3,5 a 4 metros. Em relação ao espaçamento entre plantas, recomenda-se 0,5 a 0,6 m para cultivares de porte baixo e, para cultivares de porte alto, 0,7 m, sendo o espaçamento de 4 metros entre as linhas, para evitar o autossombreamento da lavoura, que pode causar a perda dos ramos no baixeiro da planta, conhecido também como saia ou barrado.

Alguns produtores ainda optam por fazer o plantio com espaçamento entre linhas de 1,75 a 2 m e, depois, de 2 ou 3 colheitas eliminam a metade das linhas de forma alternada. É uma alternativa para ter uma alta produtividade em pequenas áreas.

Um detalhe importante é que o número de plantas por hectare deve ser considerado na hora de calcular as dosagens dos produtos, nas lavouras mais adensadas, a quantidade por planta sempre será menor. Nas lavouras mecanizadas, o espaçamento entre linhas vai interferir também na regulagem do pulverizador, portanto sempre que for fazer alguma operação em algum talhão que tenha a distância entre linhas diferente, o novo espaçamento deve ser considerado para alterar a regulagem das máquinas. O ideal é que todos os talhões da fazenda tenham a mesma largura entre linhas para facilitar a regulagem das máquinas.

Análise do solo

Antes de iniciar o preparo da área para plantio, é necessário realizar coleta e análise química do solo. Para a implantação de lavoura, recomenda-se a análise nas profundidades 0-20 cm e 20-40 cm. A análise em maior profundidade vai permitir uma correção mais precisa, que vai contribuir para um melhor desenvolvimento das raízes nas camadas mais profundas do solo. A análise de 0-20 cm é utilizada para definir a necessidade de calcário a ser aplicado em área total antes da abertura dos sulcos e de fertilizante fosfatado a ser aplicado no sulco ou na cova. Já a análise de solo de 20-40 cm serve para definir a quantidade de gesso a ser aplicada em área total antes da abertura dos sulcos e a quantidade de calcário a ser aplicada no sulco ou na cova, visando uma correção em profundidade.

O ideal é que a coleta das amostras de solo seja feita por um profissional, caso realizada pelo produtor, é importante que siga as seguintes orientações: dividir a área em talhões homogêneos, do mesmo tipo de solo e historicamente semelhante; coletar 10 a 20 pontos bem distribuídos no talhão, sendo coletado por sonda, trado, furadeira, enxadão ou cavadeira – importante coletar cuidadosamente  uma fatia de solo que tenha a mesma espessura, desde a camada mais superficial até a camada mais profunda. Após a coleta de todos os pontos do talhão, o solo deve ser bem misturado, separado em torno de 0,5 kg e enviado ao laboratório para análise.

Mais informações sobre o assunto acesse o texto “Formação da lavoura de café”, aqui na Academia do Café.