Mercado do café está nas mãos do Brasil, dizem especialistas

Mercado do café está nas mãos do Brasil, dizem especialistas

Afirmação ocorreu durante o segundo dia do 24º Seminário Internacional do Café, evento que acontece em Santos e termina neste dia 23 de maio

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Embora haja gargalos e problemas estruturais, o Brasil é o protagonista no atual mercado do café. Acima de tudo, o país vai responder, nos próximos anos, por até 80% de toda a produção mundial.

Este entendimento é de palestrantes do 24º Seminário Internacional do Café, que falaram ao público nesta quarta-feira, 22 de maio. Ou seja, o segundo dia do evento, no Blue Med Convention Center, em Santos. Inclusive, o fórum tem sequência nesta quinta-feira, dia 23 de maio, a partir das 9 horas.

Mercado do café

Painel com CEOs sobre excedente atual de café e as necessidades do mercado

Primeiramente, as declarações mais contundentes do destaque nacional surgiram no último painel. Cujo tema foi “Mercado Café – CEOs: O excedente atual é suficientemente grande para satisfazer as necessidades do mercado?”. Antes de mais nada, quem mediou foi o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo.

O diretor-geral da Volcafé, Trishul Mandana, declarou: “Agradeço aos céus pelo Brasil, pois 80% das necessidades de café do mundo serão supridas pelo Brasil”.

Em seguida, na esteira do que disse o executivo, Ben Clarkson, o diretor global da Plataforma de Café da Louis Dreyfus Company, afirmou que a nação está “em posição de protagonismo”. “O produtor tem liquidez e os tipos robusta, conilon e arábica. O cenário é favorável”, ressaltou.

Por sua vez, o diretor-geral na Ecom Agroindustrial Corp., Teddy Esteve, asseverou que “no mundo do café, precisa-se saber o que o Brasil vai fazer. O mercado está nas mãos do país”.

Imagem internacional

Apesar do que os executivos disseram a respeito do papel da nação no planeta, uma coisa precisa melhorar: a imagem do café brasileiro no exterior. Este tema, inclusive, foi levantado no painel “Economia Brasileira e Mundial e o Agronegócio em 2024”. Que foi comandado por Ricardo Amorim. Considerado pela Revista Forbes o economista mais influente do Brasil, o especialista afirmou que “a marca Brasil ou não existe, ou é muito fraca lá fora”.

“Nos Estados Unidos, quando se fala de café, eles lembram da Colômbia. O café deles é melhor que o nosso? Não, mas eles fizeram um marketing melhor”, salientou.

Sobretudo, sua opinião foi corroborada por outro painelista, o gerente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Laudemir Müller. Ele falou sobre “Promoção sustentável das Exportações do Café do Brasil”.

“Temos de agregar mais valor ao nosso café. E um tema que antecede isso é imagem do nosso agronegócio no exterior. Precisamos nos posicionar como um modelo de agricultura tropical único e diferenciado, baseado em ciência e tecnologia. Devemos vender este modelo. A base para construir uma marca é ter imagem adequada do Brasil e positiva do agro brasileiro”, disse o representante do órgão ligado ao governo federal.

Grande oportunidade

Para Amorim, isto é fundamental, a fim de que o Brasil aproveite as condições atuais. Aliás, ele entende que a nação está diante de uma grande oportunidade, pois tornou-se atrativa diante da valorização do Real. E o cenário internacional, afetado por conflitos armados e economias enfraquecidas nas nações mais desenvolvidas.

“O Brasil fica em posição única. Trata-se de um grande mercado, emergente, com risco geopolítico baixo. Somente nós e a Índia somos assim, só que ativos na Índia estão caríssimos, porque é o mercado que mais cresce. O Brasil está barato. O que se quer? Um mercado grande, para vencer bastante”, declarou.

Produção

Vanusia Nogueira sugeriu abrir espaço para cooperativas para elevar os níveis de cultivo de café

Por outro lado, traçaram um panorama sobre o comércio no café ao longo da programação. A diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), Vanusia Nogueira, disse que o mundo vive uma situação de estagnação em termos de produção.

“A linha está quase reta neste sentido, com os estoques achatando. Está aumentando o consumo, mas temos anos em que não há nenhuma safra extremamente grande, porque acontecem eventos climáticos adversos”, afirmou.

Também neste contexto, de acordo com Ricardo Amorim, o país tem condição de se destacar. Afinal, aqui ainda existe muito espaço para aumentar a produção.

“No total, 40% da área que pode ser plantada no mundo está aqui. Isso sem contar a Amazônia. Aliás, mais uma coisa: a legislação brasileira é a que mais protege o meio ambiente. Preservamos três vezes mais do que os Estados Unidos”, lembrou.

Soluções

Ainda sobre o assunto, Vanusia frisou que uma das soluções para elevar os níveis de cultivo é repensar a ideia de tamanho mínimo de plantações. Isto é, abrindo espaços para cooperativas, como as já existentes no país.

“O que é financeiramente viável? A consolidação do uso da terra. Isso vai levar a um custo mais baixo, maior produtividade e menor impacto ambiental”.

Tal movimento, de antemão, ajudaria a fechar uma conta atual. Conforme a diretora da OIC, há crescimento de consumo nas Américas, África e também na Ásia. Requerendo, portanto, mais safras e novas condições de negociações no mercado mundial.

Outros assuntos

A programação contou, ainda, com o painel “Infraestrutura: impactos na movimentação de cargas”. Compuseram o bate-papo o gerente administrativo de exportação da Cooxupé, Ronald Moraes, o vice-presidente da Associação Comercial de Santos (ACS) e diretor-presidente da MSC Brasil, Elber Alves Justo. Além do presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, o secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Alex Sandro de Ávila. E, por fim, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery. A mediação foi do presidente da ACS, Mauro Sammarco.

Primordialmente, o debate antecedeu a palestra “Serasa: A case by Cecafé & Serasa Experian, do diretor de Desenvolvimento de Negócios da Serasa”. Nele, quem falou foi Joel Risso, o diretor desenvolvimento de negócios da Serasa.

Nesse sentido, o executivo abordou o uso de dados e imagens de satélite para identificação de zonas aptas para cultivo do café. Isso tem o objetivo de comprovar para a União Europeia que a produção nacional é sustentável e não usa espaços proibidos e/ou desmatados. Em suma, a falta desta informação poderia impedir a negociação com o Velho Continente.

Crédito fotos: José Luiz Borges