Café reduz o risco de problemas cardíacos e morte precoce

Café reduz o risco de problemas cardíacos e morte precoce

Constatação é de estudo que associa consumo regular da bebida ao aumento da proteção contra doenças e morte prematura

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Um estudo recente feito pela Baker Heart and Diabetes Institute revelou que beber entre duas e três xícaras de café por dia tem efeito benéfico ao organismo. E pode proteger contra problemas cardíacos e, também, da morte precoce, conforme noticiado pela CNN.  

Consumo de café reduz riscos cardíacos

Peter Kistler, chefe da investigação clínica em eletrofisiologia do Instituto, comentou, de início, que o consumo da bebida apresentou bons resultados nos estudos.

“Os resultados sugerem que a ingestão ligeira a moderada de café moído, instantâneo e descafeinado deve ser considerada parte de um estilo de vida saudável”. 

Nesse caso, os investigadores encontraram “reduções significativas” no risco de doença coronária, insuficiência cardíaca congestiva e AVC para os três tipos de café.

Contudo, apenas o café moído e o instantâneo com cafeína reduziram o risco de arritmias, que são os batimentos cardíacos irregulares.

Do contrário, o descafeinado não reduziu a ameaça, segundo o estudo publicado no European Journal of Preventive Cardiology. 

Outras evidências

De maneira idêntica, estudos prévios também descobriram que ingerir quantidades moderadas de café simples – entre três e cinco xícaras – diminui o risco de doença e problemas cardíacos. Como, por exemplo, Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2, doença hepática e cancro da próstata. 

“Este manuscrito acrescenta ao corpo de provas de ensaios observacionais que associam o consumo moderado de café à proteção, o que parece promissor”, afirmou Charlotte Mills, professora de ciências nutricionais na University of Reading no Reino Unido, num comunicado. 

Mills, que não esteve envolvida no estudo afirmou, ainda assim, que a investigação, como muitas no passado, foi apenas observacional por natureza. E, portanto, não pode provar uma causa e efeito diretos. 

“Será que o café torna as pessoas saudáveis ou será que as pessoas inerentemente saudáveis consomem café?” questionou. “É necessário realizar ensaios controlados aleatórios para provar a relação entre o café e a saúde cardiovascular”, disse.  

Café torrado e moído, o melhor

O café normal e moído é o que mais reduz o risco. Nesse caso, o estudo utilizou dados do Biobank do Reino Unido, uma base de dados de investigação que continha preferências de consumo de café em quase 450.000 adultos considerados saudáveis no início do estudo.

Nesse sentido, a avaliação dividiu os voluntários em quatro grupos: os que apreciavam café torrado e moído, os que escolhiam descafeinado, os que preferiam o instantâneo, e os que não bebiam café. 

Após uma média de 12 anos e meio, os investigadores analisaram os registos médicos e de morte em busca de relatos de arritmia, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral e morte.

E, enfim, após adaptação à idade, diabetes, etnia, pressão arterial, obesidade, apneia do sono, sexo, estado e hábitos, como por exemplo, do consumo de chá e álcool, os investigadores descobriram que todos os tipos de café estavam associados à redução do risco de morte. 

Componentes do café

O fato de tanto o café normal como o descafeinado serem benéficos “pode sugerir que a cafeína, não necessariamente, pode explicar a redução de risco associada”, afirmou Duane Mellor, um nutricionista certificado e docente sénior na Aston University Medical School em Birmingham, no Reino Unido, em um comunicado.

Mellor, igualmente, também não esteve envolvido no estudo. 

“A cafeína é o componente mais conhecido do café, mas a bebida contém mais de 100 componentes biologicamente ativos”, reforçou Kistler, professor de medicina que trabalha em parceria com a Universidade de Melbourne e a Universidade de Monash. 

“É provável que os compostos não cafeinados tenham sido responsáveis pelas relações positivas observadas entre o consumo de café, as doenças cardiovasculares e a sobrevivência”, afirmou Kistler. 

Duas a três xícaras de café

De acordo com o estudo, beber duas a três xícaras de café por dia estava ligado à maior redução de morte prematura, em comparação com as pessoas que não bebiam.

E, consequentemente, o consumo de café moído reduziu o risco de morte em 27%, seguido de 14% para o descafeinado, e 11% para o descafeinado instantâneo. 

Contudo, a relação entre o café e o risco reduzido de doença cardíaca e AVC não era tão forte. Beber duas a três xícaras por dia de café moído reduziu o risco em 20%, enquanto que o consumo de descafeinado reduziu o risco em 6% e, por fim, o instantâneo em 9%. 

Os dados mudam no que diz respeito ao impacto do café nos batimentos cardíacos irregulares. E, acima de tudo, consumir de quatro a cinco xícaras por dia de café normal moído reduz o risco em 17%.

Enquanto que duas a três xícaras por dia de café instantâneo reduziram a probabilidade de arritmia em 12%, segundo a investigação. 

Novos estudos

Obviamente, é necessária uma investigação mais aprofundada. E uma limitação do estudo foi que ele analisou o consumo de café, somente, durante um período específico.

Annette Creedon, cientista nutricional e gestora da Fundação Britânica para a Nutrição, explica a preocupação. “Este estudo teve um período de seguimento médio de 12,5 anos, durante o qual muitos aspetos da dieta e estilo de vida dos participantes podem ter mudado”. 

Todavia, o café pode produzir efeitos secundários negativos em algumas pessoas, acrescentou ela. “As pessoas com problemas de sono ou diabetes descontrolada, por exemplo, devem consultar um médico antes de adicionar cafeína às suas dietas”. 

Sensibilidade à cafeína

Estes efeitos secundários negativos “podem ser particularmente relevantes para indivíduos que são sensíveis aos efeitos da cafeína”, salientou Creedon.

“Por isso, os resultados deste estudo não sugerem que as pessoas devem começar a beber café, caso ainda não o façam, ou que devem aumentar o seu consumo”, alertou.  

A maior parte dos estudos se concentra nos benefícios que o café pode trazer à saúde. Não levando em conta, porém, que os aditivos, como cremes, leites e açúcar, podem fazer mal, se misturados à bebida. 

“Uma simples xícara de café talvez com um pouco de leite é muito diferente de um latte grande aromatizado com açúcares e natas”, disse Duane Mellor. 

Tipo de preparo

Além disso, a forma como o café é preparado pode também afetar os seus benefícios para a saúde. O café filtrado apanha um composto chamado cafestol que existe na parte oleosa do café. O cafestol pode aumentar o mau colesterol ou LDL (lipoproteínas de baixa densidade). 

No entanto, utilizar uma prensa francesa, uma cafeteira turca ou ferver o café (como é frequentemente feito nos países escandinavos), não remove o cafestol. 

E, por fim, há que referir que os benefícios do café não se aplicam às crianças.


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