“O produtor de café deve saber a hora certa de negociar e pensar além da porteira”

“O produtor de café deve saber a hora certa de negociar e pensar além da porteira”

Avaliação é do Superintendente Comercial da Cooxupé, Lúcio de Araújo Dias, que frisa a importância de aproveitar momentos de valorização do café

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Quem acompanha as cotações de café sabe que elas caíram bastante nos últimos 12 meses, principalmente. Apesar da safra mais baixa, os preços caíram em 2022, especificamente, surpreendendo o produtor de café e o mercado.

Essa queda drástica, a princípio, se deve à inversão de mercados, como avalia Lúcio de Araújo Dias, superintendente comercial da Cooxupé.

Em um balanço sobre o ano, Lucio falou, sobretudo, sobre as oscilações, os desafios logísticos e de estoques, a alta dos juros no mercado internacional e a alta significativa nos custos de produção.

Além de trazer, ainda, uma perspectiva sobre como o mercado deve se comportar em 2023. Acompanhe:

Hub do Café: COMO O MERCADO SE COMPORTOU AO LONGO DE 2022?

Lúcio: Em 12 meses, particularmente, o mercado retraiu 47% quando comparamos as cotações de Nova Yorque de março de 2023 no final de novembro 2021 e agora no final de novembro 2022.

Essa queda acentuada ocorre, desde já, porque os mercados se antecipam aos fatos. Aqui a safra foi realmente menor, em síntese. Mas, os mercados presentes ficaram mais caros que os mercados futuros.

Isso significa, sobretudo, que os grandes participantes do mercado de cafés, como fundos de investimentos e grandes “dealers”, que compram café físico e fazem hedge nas Bolsas, conseguiam pagar os juros e as despesas de armazenagem.

E, ainda, obtinham um resultado, ficando com uma operação ruim em suas posições. Esse estoque inteiro, afinal, que estava na mão desse mercado (financeiro e comercial) trouxe um problema, pois a inversão das cotações não cobriu os custos financeiros e de armazenagem destes estoques.

Então, o que aconteceu? Eles foram atrás de quem podia comprar para se verem livres de prejuízos. Assim, as cotações foram caindo cada vez mais. Apesar de termos uma safra pequena, os detentores de café entraram no mercado e as cotações caíram muito.

Portanto, o que temos que aprender é que cada um tem o seu papel. Quando as cotações estão altas, temos que aproveitar para vender. Logo, juntam-se a isso os custos, o aumento dos juros mundiais, que estão na ordem de 6% ao ano e, assim, os valores sobem. Dessa forma, em 12 meses, houve essa queda de 47%.

Hub do Café: E COMO O PRODUTOR DE CAFÉ DEVE SE COMPORTAR EM SITUAÇÕES COMO ESSA? EM QUAL MOMENTO ELE DEVE IR AO MERCADO?

Lúcio: Cada um está no seu papel. Nesse caso, contudo, o produtor deve saber a hora certa de vender e de negociar. Ele tem que pensar além da porteira e, assim, tomar decisão quando as cotações estão boas.

Atualmente, há essa queda de 47% na cotação, na comparação com o mesmo período do ano passado. Estávamos preocupados com o clima e com a safra menor. Mas, juntaram-se a esses problemas a recessão mundial impactada pela guerra e pandemia.

Hub do Café: NUM CENÁRIO GERAL, O MERCADO DECRESCEU EM 2022?

Lúcio: Sim, houve uma queda grande. O café foi decaindo ao longo do ano. E, apesar de uma série de fatores, entraram em campo os estoques desses grandes compradores. Nesse meio tempo, até os estoques certificados pela Bolsa de NY foram subindo.

E isso se deve, principalmente, ao café do Brasil e de Honduras. Isso quer dizer que o torrador foi comprar desse pessoal, não tinha para quem vender, vendeu e certificou na Bolsa.  Achamos que iria acontecer uma coisa e, em contrapartida, ocorreu outra.

Praticamente todos os meses temos tido bons embarques de cafés. O mercado pode melhorar? Pode sim, mas isso não é uma coisa explosiva. Isso deve ficar, prioritariamente, para 2023. Por motivos como, por exemplo, a volatilidade normal do mercado de café, transição de governo, câmbio e etc.

Entre janeiro e fevereiro devemos ter uma reação. Mas, sempre argumentamos que os produtores precisam saber a hora certa de negociar e estarem atentos ao mercado externo. Inclusive, no final do ano passado, falamos muito sobre isso. O produtor precisa saber a hora certa de negociar e vender quando o mercado estiver bom. Acima de tudo, cabe a ele saber o momento ideal.

Hub do Café: NO ANO PASSADO, FALAMOS SOBRE A ALTA NO PREÇO DA SACA, COM ELEVAÇÃO NOS CUSTOS DE PRODUÇÃO. E COMO ISSO SE DEU NA PRÁTICA?

Lúcio: Tudo o que tínhamos a percepção que ia acontecer, aconteceu. Falamos, sempre, ao produtor de café que seria importante travar a safra. Todavia, infelizmente isso não ocorreu.

Uns ficaram com medo devido a problemas climáticos. Outros acharam que a safra ia ser bem menor. Em 2021, realmente tivemos uma safra menor do que esperávamos. Agora, isso também se confirmou.

E em 2023, como resultado, talvez tenhamos uma safra que fique em número semelhante às anteriores, no caso do café arábica. Outra coisa, é que quem compra aquilo que não tem (como os fundos), definitivamente, em algum momento precisa vender.

Então, os movimentos naturais de café geram oportunidades que costumam aparecer a cada 60, 90 dias, em média. E é justamente aí que cabe ao produtor saber a hora certa de negociar. Mas, é preciso decidir no melhor momento de mercado, aproveitando as boas oportunidades, para que consiga ter lucro.

Hub do Café: VIMOS NESTE ANO GRANDES IMPACTOS RELACIONADOS À CRISE LOGÍSTICA. E PARA 2023, QUAIS AS PERSPECTIVAS?

Lúcio: A parte de logística geral, como os fretes marítimos, relacionada aos contêineres deu uma boa melhorada. E, sobretudo, os valores que estavam inflacionados foram recuando.

Mas, em novembro tivemos um embarque grande da Cooxupé cancelado porque o contêiner que estava programado para a cooperativa acabou atendendo a quem pagou mais. Analogamente, é como se fosse uma espécie de leilão. E quem paga mais, ganha!

Nesse caso, em especial, foram os comerciantes de madeira, que vendem lenha para a Europa, que pagaram mais pelo espaço. Isso porque devido à crise do petróleo, os europeus passaram a comprar madeira picada para solucionarem o problema e terem nas casas durante o inverno para geração de calor e de energia.

Agora, a situação está mais controlada devido à oferta. E já recebemos navios maiores no Porto de Santos que, em conclusão, sanaram o problema. O primeiro semestre de 2022 foi caótico. Mas, agora está se normalizando e estamos conseguindo cumprir todos os compromissos.

Hub do Café: E PENSANDO NO PRODUTOR, COMO DEVE SER 2023 EM TERMOS DE MERCADO?

Lúcio: O produtor, efetivamente, deve estar de olho no mercado e no cenário macro. Olhando, sempre, além da propriedade e avaliando qual o momento certo de agir. No entanto, se houver dúvidas, deve procurar a Cooxupé que, antecipadamente, busca avaliar o cenário e os riscos.

O produtor vai ter sempre o respaldo da cooperativa. Nós procuramos, antes de mais nada, passar as informações mais balizadas possíveis, com muita sensatez e com acompanhamento de perto de todas as situações.

Hub do Café: COMO TEM SIDO TRABALHADA A QUESTÃO DE SUSTENTABILIDADE DENTRO DA COOPERATIVA? E COMO O CONCEITO ESG E O PROTOCOLO GERAÇÕES INFLUENCIAM NESSA POLÍTICA DA COOXUPÉ?

Lúcio: Nossa produção de café prima, em síntese, pela qualidade. Mercados internacionais como Japão, EUA, Canadá, Europa e Austrália, por exemplo, são os mais conscientes e exigentes.

E a novidade é que, recentemente, o parlamento europeu aprovou uma série de sanções em relação a países que produzem cafés fora das normas. Ou seja, quem usa mão de obra escrava, trabalho infantil, não respeita a legislação trabalhista, vai ficar de fora. Nós sabíamos que isso seria aprovado. Assim, há anos estamos falando sobre os protocolos de sustentabilidade.

Com isso, buscamos nos adequar às exigências do mercado. Criamos protocolos internos, muito bem estruturados, para oferecer caminhos ao produtor. E já fizemos muito a nível de produção, de práticas e de avaliações, para garantir que estamos no rumo certo. Esse, sobretudo, é um caminho sem volta.

Pois, desde já, precisamos ter responsabilidade ganhando aderência no mercado mundial. Na minha avaliação caminhamos bastante, sabe? Nossos produtores como um todo melhoraram muito em questões de sustentabilidade.

Estamos trabalhando, de antemão, no protocolo Gerações, temos ainda um trabalho com balanço de carbono e estamos trabalhando com limite máximo de resíduos dos defensivos agrícolas. E não tem volta! Precisamos nos adequar à exigência do consumidor.

Os consumidores mais velhos estão sendo substituídos pelos mais novos. E, sobretudo, o grau de exigência dos novos consumidores está mudando. Por isso, caminhamos para um mundo mais consciente e que quer saber a procedência do que consome.

Por fim, frisamos sempre: o nosso cooperado precisa compreender o mercado, saber o que está acontecendo e, dessa forma, tomar a melhor decisão. As escolhas são livres, mas as consequências obrigatórias. Importante, em suma, procurar saber informações em fontes totalmente confiáveis e, para isso, os profissionais da Cooxupé têm toda experiência para direcionar os cooperados às melhores decisões.


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