Quer saber quais são os principais desafios de um produtor de café?

Quer saber quais são os principais desafios de um produtor de café?

Engenheiro Agrônomo explica para o HUB do Café quais são os maiores pontos de atenção de um cafeicultor atualmente. Confira!

5 minutos de leitura

Ser um produtor rural significa conviver e, principalmente, saber lidar com incertezas. Pois, apesar dos esforços, nem tudo depende somente dele. O controle de tudo, portanto, não está integralmente em suas mãos.

Para exemplificar melhor: imagine um negócio que funciona 24 horas, ininterruptamente, sem férias e sem renda garantida.  

A vida de cafeicultor se enquadra exatamente neste exemplo. Além disso tudo, ele está sujeito a todas as adversidades climáticas (como calor, frio e estiagem) e, ainda por cima, tem que vender o seu produto pela cotação do mercado, independentemente se tal preço cobre os seus custos de produção.

Ou seja, o cafezinho nosso do dia a dia passa por muitas situações até chegar à xícara. E em todas elas, o produtor está, portanto, envolvido. Ou se não estiver diretamente, é impactado de alguma forma.

Para entender melhor quais são os principais desafios de um cafeicultor nos dias de hoje, o HUB do Café ouviu o coordenador de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, cooperativa mineira cafeeira que mantém mais de 17 mil famílias associadas. Eduardo Renê Cruz, também engenheiro agrônomo, detalhou esses desafios em uma lista, que podemos conferir a seguir. 

 Os 5 principais desafios do produtor de café:

 1 – Clima

Eduardo: Atualmente, o maior desafio são as adversidades climáticas pelas quais as lavouras passam. O café arábica, em especial, é uma planta que não gosta de temperatura muito alta, mas também não tolera o frio e as geadas.

Suas folhas podem queimar se expostas ao sol muito forte. E, todavia, perde produtividade se ficar na sombra ou em situações de céu nublado, pois a baixa radiação solar interfere no desenvolvimento do grão. 

Similarmente, a planta não tolera água em excesso e, além disso, a seca é igualmente prejudicial para a produtividade. Para a chuva, o período ideal é da florada até a maturação, contudo, se ocorrer durante a colheita, pode prejudicar a qualidade do café.

Então, conseguir um clima com temperaturas amenas, sobretudo, sem extremos de calor e de frio, com sol e chuvas no período e na quantidade ideal é, sem dúvida, o maior desafio da cafeicultura.

Geada é uma das preocupações de um cafeicultor

 2 – Mercado

Eduardo: O segundo maior desafio é a rentabilidade. Todo negócio, primordialmente, precisa dar lucro. O cafeicultor ama a cafeicultura, mas só o amor pela atividade não é suficiente, não é? É necessário, a princípio, que o negócio tenha lucro para se sustentar.   

Para isto, é preciso ter uma boa receita financeira. Esta depende da produtividade que é a produção por área ou sacas/hectare. Mas, a rentabilidade depende, também, do preço do café que é controlado pelo mercado. 

A produtividade depende do clima, entretanto está relacionada ao uso dos insumos na lavoura. E esses custos também são controlados pelo mercado. Um exemplo recente são os eventos externos que influenciaram o preço dos fertilizantes, os quais sofreram uma grande alta devido à pandemia e, mais recentemente, ao conflito entre Rússia e Ucrânia, o que elevou os custos de produção do café. 

Portanto, comprar insumos por um preço adequado e vender o café por um bom preço são fundamentais para o sucesso do cafeicultor. Nesse sentido, esses fatores estão diretamente atrelados ao mercado. 

É muito importante lembrar, no entanto, que produzir um café de boa qualidade também é fundamental para conseguir uma melhor preço do café.

3 – Mão de obra

Eduardo: o terceiro desafio é a mão-de-obra. Isso porque boa parte das lavouras de café está em regiões montanhosas, onde o uso de máquinas é mais difícil. 

Em muitas lavouras, por exemplo, o trabalho é feito de forma manual, desde o plantio até a colheita. A cada ano que passa, se torna mais difícil e custoso conseguir trabalhadores para essa atividade. Esta escassez tem pressionado o custo de mão de obra. 

Assim, para facilitar o serviço nas lavouras, muitos cafeicultores têm feito uso de máquinas como as roçadeiras (usadas para roçar as plantas daninhas) e as derriçadeiras (usadas para colher o café). Além disso, os terraços ou banquetas são feitos em algumas propriedades nas entrelinhas da lavoura para permitir a mecanização. A pulverização com drones também é uma tecnologia que já chegou na cafeicultura para trazer mais facilidade e já está conquistando muitos produtores.

 4 – Manejo fitossanitário

Eduardo: assim como as pessoas e os animais, as plantas também sofrem com insetos, vermes e doenças. No caso do café, por exemplo, as plantas podem ser atacadas por insetos como a Broca do Café e o Bicho Mineiro (que tem este nome porque forma minas nas folhas, sem relação com o estado de Minas Gerais), além de ácaros, cigarras, entre outras pragas. 

Os vermes que ocorrem no café são conhecidos como nematoides. Eles atacam as raízes e podem causar a morte da planta. As doenças que ocorrem no café são, principalmente, a Ferrugem, a Cercosporiose, a Mancha de Phoma (que são causadas por fungos) e a Mancha Aureolada (provocada por bactérias). 

Por muito tempo, o principal método utilizado para controlar pragas e doenças foi o controle químico, feito com defensivos agrícolas, que ajudam a medicar as plantas. Todavia, o mercado de café, principalmente do exterior, está cada vez mais exigente com relação à segurança alimentar exigindo, desse modo, uma redução na quantidade desses produtos na lavoura. 

E, para atender a essa exigência, os cafeicultores estão empregando, entre outras coisas, estratégias como o uso de defensivos biológicos, microrganismos que ajudam no controle de pragas e doenças, utilização de armadilhas para captura da Broca do Café, uso de cultivares de café resistentes à Ferrugem, bem como nutrição equilibrada para reduzir a ocorrência de Cercosporiose, Mancha de Phoma e Mancha Aureolada.

 5 – Nutrição da lavoura

Eduardo: por fim, é essencial a nutrição adequada da lavoura. A planta de café precisa, especificamente, de 16 nutrientes essenciais para se desenvolver e ter boa produção. 

Alguns destes nutrientes existem em abundância no ar e no solo, entretanto outros precisam ser fornecidos na quantidade ideal. E para saber qual seria esse o volume correto de cada nutriente é fundamental, do mesmo modo, que seja feita a análise de solo e das folhas da lavoura. É um exame da terra e da folha. 

E, assim, a partir do resultado destas análises, o técnico ou agrônomo vai calcular a quantidade dos nutrientes a serem aplicados. E, em suma, esta análise junto com a recomendação técnica são fundamentais para que não ocorra gasto desnecessário com fertilizantes e, também, para que não falte nutrientes para a planta.

Análise foliar e de solo é feita em laboratório