A agricultura regenerativa vem para ser a junção de práticas responsáveis. Ou seja, uma agricultura de fato inteligente, que busca utilizar as tecnologias e a resiliência da natureza a seu favor. É um conceito da década de 1980, entretanto, ainda veio com uma visão de Hemisfério Norte. Nesse sentido, vejo um movimento forte de entendimento e definição do termo voltado ao tropical, para a realidade que vivemos no Brasil. Por isso, vamos tratar como Agricultura Regenerativa Tropical.
Em primeiro lugar, estamos resgatando conceitos do manejo integrado de pragas e doenças. Como, por exemplo, manejo integrado de plantas daninhas. Além da redução racional do uso de fertilizantes sintéticos e defensivos agrícolas, buscando a substituição por bioinsumos. De antemão, o foco principal é o aumento da biodiversidade acima e abaixo do solo. Isto é, a busca por um solo e plantas saudáveis e mais fortes.
Agricultura Regenerativa Tropical
A prática de Agricultura Regenerativa Tropical, acima de tudo, é fundamental quando pensamos em mitigação dos efeitos negativos das mudanças climáticas. Além de ser um conceito estreitamente ligado ao ESG.
Dessa forma, precisamos apoiar os cafeicultores, principalmente pequenos e médios, na implementação dessa nova abordagem. O agricultor já faz há muito, por isso, precisamos encontrar os pontos de melhorias. Isso sempre voltado para a renda do produtor, para que ele siga na atividade e tenha a sucessão. Mas, também, para que ele tenha lucro suficiente para investir em mais práticas regenerativas e conservacionistas.
Para adequação dessas áreas, no curto prazo podemos ter um aumento de custo. Portanto, a importância de apoiar quem está no campo. Agora, em médio e longo prazo, a tendência é a redução do custo, pela criação de um sistema vivo e circular. Além da melhora em produção e qualidade de bebida.
Três pilares da sustentabilidade
Por muito tempo, pois, ligamos a sustentabilidade ao ambiental. Por outro lado, a agricultura regenerativa vem mostrando a relevância das práticas estarem pautadas nos três pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental.
Esse momento de mudança também está ligado ao consumidor, que está mais consciente e, assim, mais exigente. Por isso, mais antenado ao social e ambiental, além da qualidade da bebida, no caso o café. A seguir, confira mais sobre esses pilares:
- Econômico: traz retorno financeiro, sendo economicamente viável, além de salários justos tanto para o produtor quanto para os trabalhadores e sucessão familiar. Afinal, só vamos ter sucessão no campo se a atividade for rentável;
- Social: destaca a humanização da atividade, com acesso à saúde, educação, conectividade. E, também, a adequação às normativas, como a NR31. Que estabelece preceitos na organização e no ambiente de trabalho rural;
- Ambiental: amplia as boas práticas agrícolas, preocupação com a paisagem e não só com a lavoura. Ou seja, um olhar para as melhorias gerais da propriedade.
Práticas essenciais nas lavouras
Agora, trazemos algumas práticas fundamentais da Agricultura Regenerativa Tropical:
- Primeiramente, a utilização de variedades resistentes (pragas, doenças, falta ou excesso de água) adaptada às mudanças climáticas. E, ainda, o preparo profundo do solo (60 a 80cm de profundidade, possibilitando o alongamento da raiz);
- Depois, os bioinsumos vão da utilização da compostagem ou de produtos como a palha do café. Nesse sentido, temos fertilidade do solo e nutrição da planta até a utilização de defensivos biológicos;
- Outra dica é o uso de plantas de cobertura nas entrelinhas do cafezal. A princípio, a intenção inicial é a cobertura do solo. Evitando a exposição a altas temperaturas, bem como a perda por erosão. Inclusive, na erosão, você perde solo e consequentemente o adubo aplicado. Portanto, ao criar um microclima favorável à retenção de água no solo e à manutenção da temperatura, o produtor promove a manutenção da vida no solo. Os benefícios são dos mais diversos. Acrescento que podemos utilizar plantas com a intenção de adubação verde. Isto é, ciclagem de nutrientes, supressão de pragas e doenças. Ou até mesmo como uma renda extra, plantando culturas anuais;
- Por fim, a utilização do corredor ecológico, plantado em volta de talhões ou em áreas de preservação. Isso com plantas de diferentes extratos, ou seja, diferentes alturas. Em síntese, o corredor funciona como um quebra-vento e um local de atração de insetos benéficos e inimigos naturais. Garantindo abrigo para esses insetos durante o ano todo e alimento para determinadas fases.
Sequestro de carbono
Em conclusão, o sequestro de carbono é resultado das práticas mencionadas anteriormente, destacando a importância da criação e manutenção da vida no solo. Aliás, com um solo bem estruturado e rico em matéria orgânica.
Há uma forte correlação positiva entre o armazenamento de carbono e a maior presença de material orgânico, contribuindo para a formação dos agregados do solo. No entanto, além de adicionar material orgânico, é essencial adotar práticas de manejo conservacionista para evitar a ruptura dos agregados.
Dessa forma, o carbono ficará protegido em seu interior, o que retarda sua decomposição e diminui a transferência para a atmosfera. Preservando, assim, os estoques de carbono no solo.