Dióxido de carbono pode reduzir incidência do bicho mineiro no cafeeiro
Resultado preliminar, obtido em pesquisa, mostrou bons resultados
Estudo desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente indicou, a princípio, que o aumento da emissão de dióxido de carbono (CO2) reduziu a incidência do bicho mineiro.
A conclusão está em um experimento do tipo FACE – Free Air Carbon-dioxide Enrichment, que, sobretudo, é utilizado pela pesquisa científica para obtenção de respostas em agroecossistemas naturais intactos.
E os resultados desse estudo foram divulgados pelo Notícias Agrícolas.
Dióxido de carbono
O trabalho realizado entre os anos de 2011 a 2015, primordialmente, mostrou impactos positivos na altura das plantas, número de folhas e diâmetro do caule.
Mas, não houve nenhum efeito na incidência da ferrugem, outra doença muito conhecida do cafeeiro.
Os experimentos do tipo FACE permitem, antes de mais nada, a emissão de dióxido de carbono a céu aberto para avaliar os efeitos do gás nas plantas de interesse agropecuário.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Raquel Ghini, idealizadora do FACE Climapest, ele seria o único no mundo a estudar a cultura do café nesse ambiente.
Além disso, o modelo também foi pioneiro na priorização do estudo de problemas fitossanitários.
Meio ambiente
Para a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Katia Nechet, as mudanças climáticas representam uma ameaça às plantas.
No entanto, poucos estudos consideram o seu efeito sobre doenças e pragas de plantas, especialmente em biomas tropicais com culturas perenes.
Assim, essas informações são cruciais para apontar estratégias de manejo das culturas no futuro, especialmente em relação ao clima.
Isso acontece, portanto, uma vez que as emissões cumulativas de dióxido de carbono são determinantes, em grande parte, pelo aquecimento global.
E de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) há, ainda, projeção de aumento em torno de 1,5°C na temperatura do planeta.
Pragas e doenças
O pesquisador da Embrapa, Wagner Bettiol, avalia que são necessárias, ainda, novas observações.
“O FACE Climapest proporcionou conhecer o efeito desse aumento no café e em suas principais doenças e pragas, em estudos conduzidos a céu aberto, em condições realistas, para entender o efeito do aumento de CO2 na incidência de pragas e doenças. Experimentos assim requerem estudos que podem levar mais de três anos para plantas perenes, como o café”, diz.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de café do mundo. Na safra 21/22 o país foi responsável por 33,6% da produção mundial.
E, nesse contexto, a ferrugem e o bicho mineiro podem levar a perdas que variam de 30% a 50% e de 30% a 70%, respectivamente.
Por isso, a importância de um estudo como esse, que relaciona as variáveis climáticas e a produção agrícola.
Isso serviria, sobretudo, não apenas para identificar a vulnerabilidade dos sistemas de produção, como também para propor estratégias de adaptação da planta.
Como funciona o FACE Climapest
Primeiramente, a Embrapa Meio Ambiente implantou o FACE Climapest em março de 2011.
Na ocasião, foram escolhidas mudas das cultivares de café Catuaí Vermelho IAC e Obatã IAC.
Inicialmente, essas mudas foram transplantadas em uma área de 7 hectares com 12 parcelas experimentais.
Todavia, metade receberia o enriquecimento com CO2 e, na outra metade da área, ficariam as plantas sob concentração natural desse composto.
Então, o gás foi injetado de modo que o vento promovesse uma mistura do CO2 injetado com o ar e o transportasse para o centro das parcelas.
A Embrapa Instrumentação, dessa forma, ficou responsável pela estrutura baseada em uma rede de sensores sem fio.
Assim, esses equipamentos permitiram que qualquer mudança de concentração de CO2, influenciada pelo vento, pudesse ser rapidamente acompanhada.
Crescimento das plantas
Como resultado, o diâmetro dos cafeeiros cultivados sob CO2 mostrou elevação de 3% a 12% acima do que os submetidos às condições naturais.
E o número de folhas apresentou variação ao longo do período, uma vez que foi influenciado por outros fatores externos como, por exemplo, colheita manual e incidência de pragas.
De acordo com Regiane Iost, que participou do experimento durante o mestrado e doutorado, os resultados foram positivos.
“Mesmo assim, das 17 avaliações realizadas, 10 apresentaram maior número de folhas”, comenta.
Entretanto, a incidência da ferrugem nos tratamentos com aumento de CO2 foi baixa e estatisticamente semelhante, entre 2014 e 2015, em função das condições climáticas e da aplicação de fungicidas.
Por outro lado, o bicho mineiro causou menos estragos em plantas cultivadas sob o aumento de CO2. O que mostrou, em síntese, a mesma tendência apresentada em resultados preliminares conduzidos entre 2011 e 2013.
Sobre isso, Nechet faz a seguinte consideração: “Sabe-se que a duração do ciclo total do bicho mineiro é fortemente influenciada pela temperatura. No experimento, a temperatura foi semelhante para os tratamentos com diferentes concentrações de dióxido de carbono, o que sugere que o aumento pode ser responsável pela menor ocorrência da doença”.
O café e as mudanças climáticas no Brasil
Recentemente, o Departamento Econômico do Sistema Faesp – que engloba a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e sindicatos rurais – divulgou o boletim de “Acompanhamento da Safra Paulista 2022”.
E a avaliação, dessa forma, previa uma queda de 530,8 mil sacas de café em 2022, em relação ao último levantamento.
A perspectiva é de que a safra de café arábica fique em 3,9 milhões de sacas. Com queda, sobretudo, de 2,6%, na comparação com o volume colhido em 2021.
Tal resultado, todavia, demonstra a severidade dos impactos dos eventos climáticos adversos sobre as lavouras paulistas.
Outro detalhe, desse modo, é que o ciclo anterior foi marcado pela bienalidade negativa, em que o rendimento das lavouras é geralmente bem menor.
O fenômeno climático La Niña, definitivamente, também afetou a safra, devido a períodos de escassez hídrica.
Houve, ainda, registro de geadas em importantes regiões produtoras ocasionando perdas no potencial produtivo das lavouras.
Safra menor
Além disso, o longo período de estiagem em São Paulo em 2021, somado às altas temperaturas e episódios de geada, já apontava para a expectativa de um menor potencial produtivo deste ciclo.
Contudo, em termos de superfície plantada, a área total na atual safra está mantida em comparação a 2021 (menos 0,22%), sendo avaliada em 210 mil hectares.
Desse total, 199,8 mil hectares são de área em produção (alta de 0,81%) e 10,25 mil hectares de área em formação (queda de 16,9%).
Nesse quesito, o número total estaria em 746 milhões de cafeeiros (incremento de 9,8%).
Assim, no panorama nacional, o terceiro levantamento da Conab para 2022 reduziu em 3 milhões de sacas as estimativas para a produção de café.
E embora represente aumento de 5,6% em relação à safra anterior, se comparado a 2020 (ano de bienalidade positiva assim como o atual), indica, por fim, uma queda de 20,1% no total de café produzido.