O mundo vive em um momento de imensa tensão com o conflito entre Rússia e Ucrânia, deixando apreensivos todos nós. O Conselho Nacional do Café (CNC), historicamente, evita todo e qualquer comentário que não seja referente à cadeia produtiva cafeeira. Mas, infelizmente, a invasão Russa ao território Ucraniano gerou impacto direto no nosso dia a dia. Porém, temos consciência de que os insumos agrícolas serão afetados, parcialmente, e não na amplitude que muitos estão transmitindo.
Não podemos relacionar, imediatamente, os preços do café atualmente praticados com o conflito que ora acontece. Como representantes da produção cafeeira brasileira, podemos afirmar que uma grande influência foi também a condição climática adversa. Após uma seca prolongada, o produtor se deparou com fortíssimas geadas que refletiram diretamente na produção de café. Com isso, a produtividade diminuiu.
O alto custo dos insumos também deve ser levado em consideração, pois eles tiveram os seus preços triplicados, antes mesmo do conflito. Estamos nos referindo não só aos fertilizantes, mas também aos pesticidas. Então, não há razão de pensarmos em nova correção de custos, a não ser no caso de fertilizantes que poderão ser afetados.
Em outras regiões produtoras do mundo os fenômenos climáticos aconteceram também, diminuindo assim a oferta. Consequentemente, a lei de mercado – oferta versus demanda, que é imutável, reflete nos preços hoje praticados, em razão dessas condições adversas. Outro fator que tem influenciado neste momento é a incerteza com relação a condição climática deste ano. Não para essa safra, que já está definida, mas para a safra de 2022/2023. Sem falar ainda na pandemia que não terminou.
Nos últimos anos, os produtores trabalhavam com preços muito baixos, que às vezes não cobriam seus custos de produção, levando vários cafeicultores a mudarem de atividade, principalmente, com o incremento de grãos como soja, milho e trigo. Assim, temos uma oferta muito menor e uma demanda que, mesmo com a pandemia do Covid-19, continuou muito aquecida. Esse também é um elemento que influenciou na elevação do preço do café. A expectativa do CNC é que, numa safra maior, em 2023, com os preços dos insumos estando mais ajustados, o setor cafeeiro possa voltar à normalidade, mas sem perder a remuneração justa.
A cafeicultura brasileira tem hoje grande importância econômica e social pela geração de vagas de trabalho. São 8,4 milhões de empregos em toda a cadeia cafeeira do Brasil. Nós somos hoje o 4° produto na balança comercial com previsão de faturamento bruto de R$ 70 bilhões para este ano. Esse é um grande diferencial que fazemos.
Por fim, acreditamos que o produtor deve enfrentar todos esses desafios de cabeça erguida, crendo que tudo isso será passageiro e, assim, continuar avançando com os nossos objetivos voltados sempre a um trabalho dedicado e mais eficiente do que nunca. Não temos condição de darmos a boa notícia de que a guerra terminou, mas podemos acreditar em nós mesmos para enfrentar esses desafios e contar com a estrutura que nossas cooperativas oferecem aos produtores de café do Brasil.
*Por Silas Brasileiro – Presidente do Conselho Nacional do Café (CNC)