Produtor de café: quais os cuidados necessários para uma colheita de sucesso?

Produtor de café: quais os cuidados necessários para uma colheita de sucesso?

Hub do Café traz importantes dicas para que o cafeicultor esteja preparado para este importante momento, a safra

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O segundo levantamento de safra da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento aponta que a colheita de café brasileira está estimada em 54,74 milhões de sacas beneficiadas, contra 50,92 milhões de sacas em 2022.

A safra já começou para alguns produtores. Já na área de atuação da maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, a colheita está bem no início, se intensificando nos meses de junho, julho e agosto.

Uma colheita de sucesso é o principal objetivo para as famílias produtoras, mas como alcançar o resultado esperado?

O Hub do Café ouviu Eduardo Renê, engenheiro agrônomo e coordenador do departamento de desenvolvimento técnico da Cooxupé. Ele pontua 7 importantes cuidados dentre os quais o produtor de café precisa estar atento durante a colheita. 

1Planejamento de gastos

A colheita e o pós-colheita são operações que representam um custo elevado. Juntas, gastam em torno de 30 a 50 % do custo de produção do café. “Portanto, é necessário que o produtor tenha um bom planejamento para que obtenha recursos financeiros e, assim, realizar as operações”, alerta Eduardo.

Para um bom planejamento das despesas, conforme ele, é fundamental que o produtor tenha uma estimativa de safra mais próxima da realidade possível.

“No caso da colheita manual ou semimecanizada, é preciso considerar o número de sacas previstas; multiplicar pelo número de medidas ‘alqueires ou balaios’ para produzir uma saca beneficiada; multiplicar novamente pelo preço estimado por medida. Temos aí o valor total necessário para a colheita. Por exemplo: 200 sacas previstas x 8 medidas por saca x R$ 20,00 por medida = R$ 32.000,00”, explica. 

Além deste valor para a colheita, é importante prever também o valor para os profissionais que trabalharão na fase pós-colheita e para o beneficiamento do café, caso seja terceirizado em máquinas ambulantes. É preciso prever ainda os gastos com energia, pois é um período de maior consumo na propriedade. 

2Contratação da mão de obra

Um dos pontos de maior preocupação do produtor na colheita é, sem dúvida, a contratação de mão de obra. O número de pessoas necessárias para realizar a colheita também vai depender da estimativa de safra e do tempo em que o produtor pretende realizar a colheita do café.

“Mas, isto deve ser de acordo com a capacidade de processamento da infraestrutura de pós-colheita. O volume de colheita diário não pode exceder a capacidade da infraestrutura pois, caso isto aconteça, haverá reflexos negativos na qualidade do café”, lembra Eduardo.

Outra medida fundamental para a contratação da mão de obra é que a legislação trabalhista seja cumprida.

“Alguns pontos principais que devem ser considerados são os seguintes: os funcionários devem ser registrados e todos devem ter pelo menos 18 anos completos no momento da contratação; as casas e alojamentos devem estar em boas condições de moradia e terem acesso à água potável. Neste sentido, o laboratório da Cooxupé realiza análise de água para atender a esta exigência. Também devem ser fornecidos os EPIs necessários para colheita, assim como as horas de trabalho e folgas devem ser respeitadas. No caso de operadores de máquinas, importante que tenham treinamento para tal operação. O produtor deve procurar o seu contador para que seja orientado com relação às exigências da legislação”, aconselha o engenheiro agrônomo.

3- Revisão e limpeza das máquinas de colheita e pós-colheita

Antes e durante a colheita, o produtor deve fazer a revisão e manutenção preventiva das máquinas. Isso porque esta operação evita gastos desnecessários e atrasos na colheita por conta de equipamentos quebrados durante o processo.

A limpeza da estrutura de pós-colheita, por sua vez, é fundamental para a qualidade. “Pois, a infraestrutura limpa evita contaminação de lotes de alta qualidade com grãos de qualidade inferior de outros lotes. Além disso, evita contaminação por impurezas que prejudicam o preparo do café. Nunca podemos esquecer que estamos trabalhando com um alimento, portanto, o capricho e a higiene são fatores essenciais para atender à exigência dos clientes”, pondera Eduardo.

4 – Manejo pós-colheita

Esta fase é fundamental para preservar a boa qualidade do café e, neste momento, erros podem prejudica-la e causar um grande prejuízo. Assim, para uma boa qualidade, o produtor deve colher o café com o máximo de frutos maduros possível, ou seja, evitando colher muito verde.

Após a colheita, o café deve ser levado para a estrutura de processamento diariamente, o que significa não pernoitar na lavoura.

“Quando faz processamento via úmida, o cafeicultor deve ficar atento à regulagem dos despolpadores e dos desmuciladores para evitar quebra do grão. Na secagem, iniciar no terreiro com camadas finas, para que o café perca umidade mais rápido. Depois de três dias no terreiro, começa a engrossar a camada para que o café perca umidade mais lentamente. Rodar o café várias vezes ao dia e, a partir de 30 % de umidade ou meia seca, enleirar e cobrir com pano e lona todos as noites”, orienta o engenheiro agrônomo. 

Secagem

Ele ainda instrui que, no secador, é preciso secar com temperatura máxima de 45°C para café natural, 40°C para pergaminho e natural especial e 35°C para café verde. Isso porque a secagem com temperatura acima destas pode prejudicar a qualidade.

Para café com menos de 30% de umidade ou abaixo da meia seca, o produtor deve desligar o secador durante a noite para uniformização da secagem.

“Após a secagem, deixar o café ‘descansar’ por um período de 10 dias ou 30 dias para especiais, antes do beneficiamento. A umidade ideal para beneficiamento e armazenamento do café é de 10,8 a 11,2%. Abaixo de 10,5% haverá perda de peso e quebra do café. Acima de 11,5% haverá branqueamento mais precoce do café, prejudicando a qualidade”, pontua Eduardo.

Para a medição correta da umidade do café, é muito importante que o determinador de umidade esteja aferido. A equipe Cooxupé pode orientar em relação a aferição do equipamento.

5- Manejo em caso de chuvas

Chuvas na colheita podem causar problemas na qualidade do café. Pois, além de derrubar frutos na lavoura e aumentar o % de café de varrição, estas causam um transtorno no terreiro também.

“A primeira medida a ser tomada na fase pós-colheita é liberar os secadores que estiverem com café de 16% de umidade ou abaixo. Lotes no terreiro com 16% ou abaixo devem ser armazenados. Nesta faixa de umidade, o café pode ficar armazenado por um curto período sem prejuízo à qualidade. Lotes de 16 a 30 % de umidade devem ser enleirados e cobertos com pano e lona. Em intervalos sem chuva, orientamos descobrir e virar as leiras. Lotes de logo acima de 30% de umidade devem ser levados para o secador, enquanto que lotes muito úmidos podem permanecer em camadas finas tomando chuva”, afirma Eduardo.

6 – Repasse e varrição

Segundo o engenheiro agrônomo, no caso de colheita mecânica, é necessário fazer o repasse para que não fique frutos na lavoura.

“Embora muitos acreditam que não, o repasse é uma operação viável. Gasta-se aproximadamente o equivalente a 1 saca de café para repassar 1 hectare. Se em cada planta tiver 0,2 litro de café, o próprio café obtido do repasse já é suficiente para pagar a despesa do repasse”, conta Eduardo.

Mas, o principal benefício do repasse, conforme ele, é a redução da população de broca. Isso porque o controle desta praga da próxima safra começa na colheita da safra atual, pois os frutos remanescentes servem de abrigo e alimento para a broca de um ano para o outro.

“Então, principalmente naqueles talhões com histórico da praga, o repasse é a medida mais eficaz para o manejo. Após fazer o repasse, deve ser feita a varrição, pois os frutos do chão também podem alojar a broca. A varrição também é muito viável porque em torno de 10 a 30% do café da lavoura pode estar no chão. Como o café de varrição normalmente tem qualidade inferior, recomenda-se não misturar lotes de varrição com os demais lotes. Além disso, é desejável que os cafés de varrição sejam os últimos a passar pela estrutura de secagem para evitar a contaminação de outros lotes”, alerta.

7 – Segurança

Outro ponto de grande preocupação dos produtores nesta época é com o risco de roubo de café. Com a saca nos preços atuais, o risco aumenta. Para diminuir este risco, recomenda-se que o envio dos lotes beneficiados o quanto antes para os armazéns da cooperativa, não deixando café armazenado na propriedade.

“Importante transitar com o café beneficiado somente durante o dia e sempre com a carga segurada. O cooperado da Cooxupé pode receber orientações com a equipe do seu núcleo de atendimento em relação ao seguro da carga oferecido pela cooperativa”, conclui Eduardo.