Tarifa de Trump ameaça as exportações do agronegócio do Brasil
País pode enfrentar dificuldades no fornecimento de itens que fazem parte do estilo de vida americano, como café, carne e suco de laranja
A tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros ameaça as exportações do agronegócio. De antemão, pode encarecer itens que fazem parte do estilo de vida americano, como café, carne e suco de laranja. Antes de mais nada, a notícia é do site Exame.
Ameaça às exportações do agronegócio
Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share de café nos EUA. Segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era arábica.
No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, correspondendo, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.
No entanto, com a taxação de Trump, países como Vietnã e Colômbia, que ocupam o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, na produção global, não têm capacidade para oferecer uma quantidade significativa de café aos EUA. Por sua vez, o país norte-americano tem uma demanda anual de 24 milhões de sacas. No caso do Vietnã, a produção é majoritariamente do tipo canéfora.
“Não se constrói um mercado da noite para o dia. Não será fácil para a Colômbia e o Vietnã abastecerem esse grande mercado americano tão rapidamente. A indústria americana precisará encontrar uma forma de suprir essa demanda”, diz Eduardo Heron, diretor-técnico do Cecafé.
Impactos das tarifas
Para Heron, a tarifa de Trump abre espaço para o governo brasileiro negociar com os EUA. Da mesma forma, como foi o caso do Vietnã, que conseguiu um acordo de tarifa de 20% sobre o café.
“Nenhum outro país do mundo tem a capacidade de fornecer café arábica na quantidade que o Brasil oferece para os Estados Unidos. E certamente não na mesma proporção”, afirma o diretor.
Segundo Luiz Fernando dos Reis, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, o Brasil pode sentir os impactos caso as tarifas passem a valer a partir de 1º de agosto. Entretanto, os EUA também não sairão ilesos da situação.
“Quem realmente vai pagar essa conta é o próprio consumidor americano. No final das contas, quem compra o nosso café terá de repassar a tarifa no preço, tornando-o mais caro. Não vejo o mundo preparado para atender e suprir um possível desabastecimento do Brasil”, afirma o executivo.
Café gera riqueza nos EUA
Um estudo da National Coffee Association (NCA), citado pelo Cecafé, mostra que o café gera significativa riqueza nos EUA. Isto é, já que o país importa café e agrega valor por meio da industrialização. Por lá, 76% dos americanos consomem café.
Para cada dólar de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana. Contudo, isso representa 2,2 milhões de empregos, correspondendo a 1,2% do produto interno bruto (PIB) americano. Conforme análise da NCA.
A pesquisa também destaca que a indústria de café contribui com US$ 343 bilhões para a economia dos EUA.
Lista de produtos taxados
Entretanto, a NCA negocia com o governo americano a possibilidade de retirar o café da lista de produtos taxados, em função da sua importância para a economia dos EUA.
Aliás, a negociação está em andamento desde abril, quando Trump anunciou a primeira rodada de tarifas para vários países, incluindo o Brasil. A princípio, a ideia é colocar o café brasileiro na lista de produtos estratégicos, classificando-o como um produto natural não disponível nos Estados Unidos.
Em síntese, com o anúncio de Trump, o setor cafeeiro do Brasil acredita que as negociações podem avançar.