Café solúvel é tudo igual? Indústria quer provar que não!
Durante Semana Internacional do Café, associação que representa o setor anunciou o lançamento de nova metodologia
“Café solúvel não é tudo igual”. Quem garante isso é Aguinaldo Lima, diretor de relações da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), que representa a indústria do segmento.
Desse modo, para provar a afirmação, a ABICS anunciou durante a Semana Internacional do Café (SIC) o lançamento em nível mundial da Metodologia de Análise Sensorial do Café Solúvel.
O documento reúne uma série de atributos que, sobretudo, devem ajudar o mercado consumidor a diferenciar os tipos de cafés. Como mostra reportagem da Globo Rural.
Café solúvel não é tudo igual
A iniciativa da ABICS, acima de tudo, é vista como uma mudança importante para o segmento de café solúvel.
Anteriormente, cada indústria tinha seu próprio protocolo de qualidade. E a Metodologia de Análise Sensorial do Café Solúvel veio, enfim, para fazer a cadeia “falar a mesma língua”.
Por exemplo, em 2004 houve a criação do Programa de Qualidade do Café (PQC) pela Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Isso para certificar a qualidade do produto torrado e moído encontrado nas gôndolas dos supermercados.
Projeto é de 2019
Todavia, a nova metodologia da ABICS começou a ser elaborada em 2019. E os trabalhos reuniram, inicialmente, um grupo de experts formando por profissionais da indústria e pesquisadores do assunto. Eles discutiram os principais atributos dos cafés solúveis.
Assim, o grupo chegou a 15 atributos principais: doçura, acidez, madeira, floral, vegetal, intensidade de sabor residual, adstringência, amargor, sabor de café extraído em excesso e corpo.
Foram avaliadas, ainda, as notas sensoriais como nozes, especiarias, frutado, chocolate e mel. E, igualmente, estabelecidas notas de 0 a 5 para cada um deles, sendo 0 ausência e 5 muito persistente.
Tipos de cafés
O resultado foi compilado em um aplicativo que gera um laudo, enquadrando o café solúvel em uma de três categorias. Como, por exemplo:
Excelência: com doçura e acidez marcantes, com complexidade aromática intensa, pouco amargor e adstringência, presença de notas achocoladas, florais, com aroma e sabor suaves;
Diferenciados: acidez equilibrada, com presença de notas amadeiradas, amêndoas e especiarias, com leve sabor de extração excessiva, média potência no paladar, amargor e adstringência média;
Convencionais: baixa doçura e acidez, amargor e adstringência presentes, forte potência de paladar, bom corpo, com presença de extração mais excessiva, finalização longa duradora.
Estimular as vendas
O objetivo da recém-lançada metodologia é estimular ainda mais as vendas de café solúvel do Brasil. Que já tem a liderança nas exportações mundiais, com um recorde de 4,09 milhões de sacas de 60 kg em 2021.
Esse montante rendeu, nesse meio tempo, uma receita de US$ 566,2 milhões ao país. Porém, embora represente 28% do café consumido no mundo, o produto ainda é visto por muitos como categoria de menor qualidade.
De acordo com Eliana Relvas, cafeóloga e consultora da ABICS, a mudança vem em boa hora. “O protocolo vem para quebrar paradigmas, mostrar a diversidade e os atributos destes cafés solúveis, que são oriundos de cafés arábicas, canéforas ou blends e podem ser feitos por diferentes processos”.
Ou seja, a partir da constatação dessa diversidade de produtos, a ideia é se basear nesses atributos sensoriais para, dessa forma, direcionar o café solúvel mais adequado à demanda do cliente.
“Se o seu cliente vai usar o café solúvel para elaborar uma bebida que leva canela, não adianta sugerir a categoria de excelência, porque a canela vai matar o sabor e aroma suaves do café”, explica Eliana.
Em suma, a ideia da ABICS é incentivar a formação do IC Grader, sigla em inglês para denominar o avaliador da qualidade do café solúvel, como ressalta Lima. “Não queremos ser os detentores da metodologia, apenas o promotor. Outras organizações poderão aplicar”, finaliza.