Circuito das Águas Paulista aprimora trabalho com cafés especiais

Circuito das Águas Paulista aprimora trabalho com cafés especiais

Com características genuínas, como a doçura marcante, o produto da região se destaca no Brasil

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Um dos cultivos históricos do Circuito das Águas Paulista é a produção de café. A princípio, o produto se desenvolveu na região, apesar de perder a força com a queda da Bolsa, em 1929.

Mas, ainda assim permaneceu e vive, atualmente, uma nova e importante fase: a dos cafés especiais, como mostra o site Notícias Agrícolas.

Circuito das Águas Paulista

A mudança na região começou a se delinear nos últimos 10 anos.

Isso porque, com a descoberta de particularidades sensoriais, novos usos deram projeção ao café que ganhou, pois, reconhecimento nacional.

Desse modo, com a ajuda do Sebrae, foram oferecidos cursos, treinamentos, orientações e até concursos de qualidade do café que, portanto, possibilitaram a melhoria dos trabalhos na lavoura.

Um dos resultados da iniciativa, evidentemente, foi a criação da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap), em 2018.

Ela envolve, em síntese, os nove municípios do circuito: Águas de Lindóia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Monte Alegre do Sul, Lindóia, Pedreira, Serra Negra e Socorro.

A Acecap tem o objetivo de unir esforços dos produtores em busca de qualidade do café, autonomia e desenvolver novos produtos.

Destaque em concursos

Desde então, o Circuito das Águas Paulista tem tido destaque no Concurso Estadual de Qualidade do Café Paulista.

Na última edição, inclusive, foram 10 finalistas que conquistaram três prêmios para a região, entre 37 selecionados de todo o Estado.

O que mostra, sobretudo, o número expressivo de cafeicultores locais entre os melhores.

De acordo com dados da Acecap, o Circuito das Águas Paulista reúne, hoje, 1.800 produtores, com 7 mil hectares de plantação de café.

Como resultado, a região produz 192 mil sacas de 60 quilos, com produtividade que chega, particularmente, a 28 sacas por hectare.

E, de antemão, muitas das pequenas e médias propriedades são lideradas por mulheres cafeeiras. Ou seja, são produções familiares, passadas de geração em geração, que cuidam de todas as etapas com atenção às tradições e sustentabilidade.

Novos cafeicultores

Há, também, uma nova onda de cafeicultores que se instalaram na região. Eles são atraídos, principalmente, pela qualidade de vida, vocação cafeeira e características produtivas.

Roseli Vasco de Toledo, coordenadora do Sindicato Rural de Amparo e Região comenta, com orgulho, sobre a valorização nacional.

“Somos orgulhosos de fazer parte dessa transformação, que incentivou a mudança no modo de produção. Hoje, fico feliz em ver como a região se tornou conhecida pela produção de cafés especiais, cada vez mais premiados fora daqui”, avalia junto à reportagem.

Cafés especiais

Localmente, as nove cidades contam com o “Concurso Qualidade do Café Circuito das Águas Paulista”, que está na 15º edição.

A seleção e o fortalecimento do trabalho são apontados como os grandes incentivadores das mudanças, como avalia Silvia Fonte, presidente da Acecap.

“Nesta trajetória, muitos nos deram as mãos e nos conduziram em passos firmes, nos ajudando a construir uma ótima base para os negócios. O Sebrae é a única entidade que olha para o pequeno e médio empresário e os vê sempre como grandes, sempre acreditando nos resultados de seus empenhos”, diz Silvia.

Na última década, especialmente, o Circuito das Águas Paulista migrou do café de commodity para o café especial.

Isso foi impulsionado, também, pelo movimento mundial da segunda e terceira ondas do café.

A decisão, em suma, vem dando bons frutos e já se desdobra em um café de altíssima qualidade para o consumidor e melhor rentabilidade para os produtores.

Aliado a isso tem questões como, por exemplo, as características de topografia e relevo e, ainda, o desenvolvimento de produtos associados.

Sem falar, pois, no turismo de experiência e conhecimento, que ajuda a incrementar a produção agrícola e valorizar o produto.

Experiências com café

A região é um bom destino para experiências com café. Seja para visitas guiadas às fazendas até lugares charmosos para degustar o “queridinho” dos brasileiros.

E, em conclusão, cada vez mais propriedades do Circuito das Águas Paulista se abrem para visitações como, por exemplo, o produtor de café Luiz Eduardo de Bovi. Ele abriu as porteiras para receber turistas e está satisfeito com o resultado.

“O turismo de café, de uma maneira geral, está se estruturando na região e representa um potencial de crescimento muito grande, principalmente como oportunidade de negócio para pequenos e médios produtores de café do Circuito das Águas Paulista”, afirma à reportagem.

Nesta onda do café, uma cadeia toda se fortalece: produtores, profissionais, baristas, microtorrefadores e lojistas ampliam seu conhecimento no universo do café, formando os novos consumidores.

Características genuínas

A região produtora de cafés especiais tem características intrínsecas ligadas principalmente a sua geografia e clima.

A região, acima de tudo, é apontada como ideal para o cultivo do produto, por conta do solo e altitude, melhoramento de variedades, além de amplitude térmica com diferentes temperaturas (calor de dia e frio à noite) dentro de uma estabilidade equilibrada.

Isso valoriza a maturação da fruta e resulta na principal característica do café do Circuito das Águas Paulista: a doçura acentuada e marcante, como explica a presidente da Acecap.

“Diferente de qualquer região do Brasil, nosso café tem uma doçura aguçada, que se brinca por aqui que o açúcar é colocado no pé de café”, explica Silvia. 

De acordo com especialistas, a produção regional resulta em um café extremamente aveludado, com acidez de frutas amarelas, notas de frutas secas, nozes, caramelo e chocolate e, às vezes, floral.

Indicação geográfica

Por isso, o Circuito das Águas Paulista deu início ao processo de indicação geográfica para reconhecimento do café produzido na região.

Essa classificação, antes de mais nada, é uma identificação de produto ou serviço característico do seu local de origem. E que possui uma ligação tão forte com os produtores locais e o território onde há a produção que, portanto, pode obter esse reconhecimento.

No Brasil, a princípio, 100 territórios já têm o selo de Indicação Geográfica (IG), cuja condução é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Essa classificação, afinal, vem do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).