Projeto de inovação da Cooxupé é destaque em reportagem do InovaCoop

Projeto de inovação da Cooxupé é destaque em reportagem do InovaCoop

“Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa” havia sido escolhido pela Bayer como importante iniciativa de baixo custo para pequenos produtores

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Atualmente, dentre os mais de 18 mil cooperados da Cooxupé, cerca de 97% deles são mini e pequenos produtores que representam a agricultura familiar. A agricultura de precisão e a inovação, neste contexto, ganham relevância.

Assim, surgiu a necessidade de implementar um trabalho para promover o desenvolvimento sustentável desse grupo. Que passou, portanto, a contar com monitoramento contínuo das informações de solo e de lavoura pensando, especialmente, na agricultura regenerativa. Desse modo, a iniciativa premiada pela Bayer foi destaque no InovaCoop.

Reconhecimento pela inovação

O “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa”, realizado pela Cooxupé em parceria com a startup Quanticum e o IFSuldeMinas (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais), surgiu da necessidade de tornar mais acessível a agricultura de precisão.

O objetivo do projeto, desde já, é mapear a saúde do solo em propriedades cooperadas com tecnologias de baixo custo e oferecer ao pequeno produtor análises mais ricas para a tomada de decisão, fortalecendo a sustentabilidade da lavoura.

Desafios

De acordo com Mário Ferraz de Araújo, gerente do departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, os solos tropicais – especialmente nas regiões de café do Sul de Minas – apresentam uma variedade bastante significativa em sua composição físico-química, biológica e mineralógica (tipologia da argila).

“Às vezes, numa pequena gleba, nós temos uma variação de solos muito grande. E isso se reflete na nutrição da planta, no seu potencial produtivo, na qualidade do produto final e no ataque de pragas e doenças”, explica.

Até então, o desafio era encontrar uma solução que proporcionasse ao pequeno produtor de café mecanismos e tecnologias economicamente viáveis, para mapear e monitorar extensões de terra menores.

“A agricultura de precisão tradicional é excludente, porque depende de equipamentos caros, mais apropriados para grandes áreas. Por demandarem grandes investimentos, tornam-se acessíveis apenas para o grande produtor de café, soja e de milho”, afirma Araújo.

Desenvolvimento

O projeto de agricultura regenerativa é resultado de uma iniciativa conjunta da Cooxupé, do Polo de Inovação Embrapii IFSuldeMinas – especializado em cafeicultura – e da startup Quanticum – que oferece serviços de identificação e mapeamento de nanopartículas naturais do solo para áreas agrícolas.

Conforme Leandro Carlos Paiva, diretor do Polo de Inovação Embrapii Agroindústria do Café, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, após identificar as deficiências, vem a necessidade de aporte financeiro.

“[No Polo de Inovação] nós identificamos potenciais projetos de inovação que tragam alguma contribuição para o produtor de café e aportamos recursos de ministérios ligados ao Governo Federal para que a inovação se realize com qualidade”, conta Paiva.

Ele lembra, ainda, como o projeto se delineou. “Nós tínhamos o contato da Quanticum, startup nascida na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, que queria empregar sua tecnologia, e estabelecemos o contato com a Cooxupé, que tinha a necessidade de trabalhar com a agricultura regenerativa de precisão”, reforça Paiva.

Nanopartículas

O método desenvolvido pela startup, já aplicado em outros estados e cultivos agrícolas do País, identifica as nanopartículas do solo por meio da tecnologia de mapeamento magnético.

Quando essas nanopartículas naturais do solo mudam, altera-se, também, o potencial natural do solo para produzir alimentos. Isso interfere, pois, no equilíbrio dos micro-organismos, nas respostas à aplicação de adubos, na resiliência hídrica e, por fim, no armazenamento de carbono.

“O mesmo mapa dessas nanopartículas pode ser utilizado para diferentes operações no campo de forma prática, simples e com grande escalabilidade”, comenta Diego Siqueira, cientista do solo e Diretor Executivo da Quanticum.

E com o uso da tecnologia, o produtor pode fazer a dosagem de fertilização e a aplicação de defensivos de acordo com a necessidade real de cada área da lavoura. Como resultado, há redução nos custos e aumento da lucratividade da plantação.

“A essência dessa tecnologia é identificar as condições de solo inerentes a cada gleba. E ela não depende de equipamentos. Ela depende dos resultados daquela análise de solo na parte química, na física e na parte relacionada à tipologia de argila. Isso democratiza muito o acesso ao pequeno produtor”, explica Araújo, da Cooxupé.

Com o desenvolvimento dessa tecnologia de precisão, o grupo desenvolveu, enfim, o projeto “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa”. Que oferece, pois, a aplicação prática das técnicas para participar de um programa de inovação promovido por uma fabricante de fertilizantes e defensivos agrícolas.

Resultados

“Com esse mapeamento, nós conseguimos estabelecer as doses desses produtos de acordo com a tipologia de argila de cada área”, explica Araújo. Dessa forma, são as características de cada solo, definidas pela análise magnética. Que determinarão se serão utilizados, por exemplo, 4, 6 ou 8 litros por hectare de um determinado defensivo.

Assim, o projeto conjunto da Cooxupé, IFSuldeMinas e Quanticum, foi o vencedor na categoria Inovação do Programa Coopera Mais, da Bayer. Recebendo um aporte de R$ 1,5 milhão da multinacional, além de consultoria especializada.

Agora, o projeto pretende mapear a saúde do solo em 80 propriedades, totalizando 10 mil hectares de lavouras de café. No ano passado, as organizações envolvidas dedicaram esforços para alinhamentos de natureza jurídico-tributária para prosseguirem com o trabalho. Na sequência, veio a fase de coleta de amostras para análise e mapeamento.

“Com esses resultados, nossos técnicos poderão fazer uma inferência muito melhor do que ocorre hoje”, comenta Araújo.

Próximas iniciativas

De acordo com Araújo, o projeto está dividido em cinco fases. A primeira, desde já, envolve as atividades relacionadas ao projeto em desenvolvimento no âmbito do Programa de Inovação da Bayer.

“Neste momento, estamos fazendo alinhamentos das equipes de Tecnologia da Informação das partes envolvidas para viabilizar a troca de dados entre todos”, explica Araújo. “Também estamos em um processo de capacitação dos técnicos para transferência de tecnologia para os cooperados, para que esta etapa seja concluída em 2023”, conclui.

Por fim, Leandro Carlos Paiva, da Embrapii/IFSuldeMinas, explica que, ao longo de 2023, o banco de dados será abastecido em tempo real com as análises de solo. Ficando, em suma, disponível para os técnicos por meio de um APP.

Em conclusão, ele acrescenta que o leque de possibilidades é ainda maior. “Mas, as possibilidades de exploração da tecnologia são infinitamente maiores, e vamos desenvolvê-las ao longo dos próximos anos”, pontua.