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Engenheiro agrônomo, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica

Moderno agronegócio brasileiro

Pujante, desenvolvimentista e sustentável, o setor é o pilar de sustentação da economia brasileira

Há meros 50 anos, o Brasil importava diversos produtos agrícolas, com destaque para leite e trigo. Entretanto, sua exportação se resumia a cacau, açúcar e café, dirigidos a poucos mercados. De lá para cá, o cenário no campo transmutou-se em uma velocidade ímpar, provavelmente sem paralelo na história mundial. Nesse sentido, em 2023, o valor bruto da produção (VBP) atingiu 1,216 trilhão de reais (US$ 240 bilhões). Em 2022, as exportações de produtos agropecuários – com destino a mais de 200 países – totalizaram US$ 159 bilhões. Versus meros US$ 17 bilhões em importações. Gerando, portanto, um saldo líquido de US$ 142 bilhões. Este é o moderno agronegócio brasileiro.

Moderno agronegócio

No total, pois, as exportações brasileiras atingiram US$ 335 bilhões e as importações US$ 273 bilhões. Assim, o agronegócio respondeu por 47,5% das exportações, 6,2% das importações e pela totalidade do saldo positivo da balança. Além de cobrir US$ 80 bilhões do déficit de outros setores da economia.

Dessa forma, se hoje o Brasil pode importar máquinas, medicamentos e bens de consumo, se podemos viajar para o exterior sem restrições, agradeça ao agronegócio. É o grande carreador de divisas da economia brasileira.

Um livro para ler e reler

“O Brasil Rural: novas interpretações” é um livro que será lançado no primeiro trimestre de 2024. A princípio, tendo como organizadores Maria Thereza Pedroso, Zander Navarro e Marlon Brisola. Ou seja, sendo os dois primeiros pesquisadores da Embrapa e Brisola professor da UnB.

Desde já, a obra trata de diversos temas, porém ressalte-se a abordagem relativa à constatação factual da superação do passado agrário. E o estabelecimento de um padrão de acumulação de capital, que consagra o capitalismo no campo. Dessa forma, a exemplo do que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos.

À guisa de exemplo do conteúdo do livro, cite-se a análise da relação entre o crédito tomado pelos empresários rurais e o valor da produção. Isso contido em um texto liberado antecipadamente por um dos autores.

Crédito Rural

De acordo com os dados disponíveis, ocorreu um crescimento dos valores do crédito rural, em menor ritmo entre 1995 (R$ 30 bilhões) e 2011 (R$ 125 bilhões). Assim, seguido por uma rápida aceleração nos últimos 13 anos, de forma a atingir R$ 300 bilhões em 2023.

Portanto, isso demonstra cabalmente o apetite da agropecuária empresarial por mais financiamentos, visando a sua expansão.

Já a relação entre o crédito rural empresarial (CRE) e o valor bruto da produção (VBP) inicia com uma queda no final dos anos 1990. Isto é, resultado da estabilização monetária decorrente do Plano Real, seguida do aumento acelerado da produtividade total de fatores (PTF) da produção no campo.

Produtividade, o segredo

Pelo exposto, pois, verifica-se que o crescimento expressivo da PTF nos últimos 25 anos levou a produção total e seu valor de mercado a crescerem muito mais do que os investimentos. Em suma, pela métrica do crédito rural empresarial.

Desde a safra de 2005, entretanto, a relação entre os dois indicadores (crédito e VBP) apresenta tendência de queda, alcançando em 2022 a proporção de 37%.

Destarte, plasma-se a constatação de uma “quase automática e vigorosa máquina de produção de riqueza” (na expressão dos autores do livro). Com extraordinários efeitos de sinergia que garantem que o resultado final, em termos de produção, produtividade e valor é muito maior do que o somatório das partes. Ou seja, os valores dos insumos, máquinas e outros produtos adicionados à produção e revelados pelos dados de investimentos realizados.

Em conclusão, essa é a nova face do agronegócio brasileiro: pujante, desenvolvimentista e sustentável. O pilar de sustentação da economia brasileira, não apenas pela geração intrínseca. Porém, pelo benefício que o efeito irradiador da geração de riquezas do agronegócio proporciona aos demais setores da economia brasileira.