5º Fórum Café e Clima da Cooxupé mostra preocupações com a safra 2024

 5º Fórum Café e Clima da Cooxupé mostra preocupações com a safra 2024

Palestrantes mostraram como o clima impactou na produção atual de café arábica; Fórum apresentou previsões meteorológicas dos próximos meses

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O 5º Fórum Café e Clima da Cooxupé, realizado na última quinta-feira, 27 de julho, na matriz da cooperativa em Guaxupé (MG), mostrou as preocupações com a safra cafeeira em 2024. Antes de mais nada, o evento contou com palestras de três especialistas. Portanto, eles detalharam, de forma técnica, como as condições meteorológicas e fisiológicas impactaram na produção de café.

Em primeiro lugar, em seu discurso na abertura do Fórum, o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, agradeceu a presença de todos e falou da importância do evento.

“Sempre trazemos especialistas com profundo conhecimento para um panorama climático do presente e do futuro. O produtor tem pouco a fazer com o fator clima, que não depende do agricultor ou da cooperativa. Mas, nossa missão é trazer essas orientações para que a gente possa minimizar esses aspectos dentro da produção”, afirmou.

De acordo com o vice-presidente Osvaldo Bachião Filho, em suas edições, o encontro aborda todas as situações vividas pela cafeicultura nos últimos cinco anos.

“Com o Fórum Café e Clima, nosso objetivo é trazer a academia para mais perto de nós, para entendermos o que tem sido estudado na área e como podemos colocar em prática nas nossas lavouras. Dessa forma, temos segurança para fazer negócios e mais inteligência para vender o café quando o mercado precisa, não quando precisamos de dinheiro”, ressaltou.

Em suma, o encontro foi mediado pelo engenheiro agrônomo Mário Ferraz de Araújo, gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé.

Produção de café

Guilherme Vinícius Teixeira, engenheiro agrônomo do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé

A primeira apresentação do Fórum, pois, foi do engenheiro agrônomo do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, Guilherme Vinícius Teixeira. Nesse sentido, ele abordou as condições agrometeorológicas ocorridas desde 2021 e suas consequências na área de atuação da Cooxupé. De acordo com Teixeira, de 60 a 70% da viabilidade de produção do café depende da condição do clima.

“Em sua maior parte, o clima é o que determina se o café vai ter uma produção alta ou comprometida. Depois, tem um peso para a genética, o solo e o manejo. Então, o clima tem um papel importante tanto na fisiologia, no crescimento, no desenvolvimento e na reprodução, mas não é só isso. A gente tem que fazer a nossa parte também, com o manejo adequado na hora certa, procurar materiais genéticos que vão responder a aquele microclima da região onde atua e realizar os tratos culturais, dando as condições necessárias para ter uma boa produtividade”, orientou o engenheiro.

Preocupações com a safra

Com o auxílio de gráficos, dessa forma, Teixeira mostrou que, desde janeiro de 2021, o cafeeiro sofre com os impactos climáticos. Nos primeiros meses daquele ano, houve redução do volume de chuva estendendo até agosto, o que gerou elevação do déficit hídrico. Já em julho de 2021, frentes frias provocaram alto estresse nas plantas e redução de área foliar, comprometendo a safra de 2022.

Sobretudo entre outubro de 2021 e janeiro de 2022, foi registrado alto volume pluviométrico, comprometendo a eficiência da fotossíntese e reduzindo o peso dos frutos. Os primeiros meses de 2022 apresentaram registros de chuvas abaixo da média e redução do armazenamento de água no solo. Aumentando, pois, o déficit hídrico em março e estendendo o período de seca até agosto do ano passado. A partir de setembro daquele ano, apesar das chuvas acima da média e florada exuberante no fim do mês, houve registro de amplitude térmica, influenciando no pegamento floral.

“Com as chuvas de setembro de 2022 a junho de 2023, tivemos boas condições vegetativas e o ano de 2023 é o reflexo da safra de 2024. Para esta safra, houve um bom crescimento vegetativo, mas em outubro e novembro de 2022 houve chuva de granizo, o que prejudicou o manejo, principalmente o fitossanitário. Nossos técnicos trazem relatos de alta intensidade de ferrugem, mancha de phoma, mancha aureolada, com a colheita ocorre uma desfolha e há alguns casos de bicho mineiro. Na amplitude térmica, há relatos de floradas indesejadas que aconteceram em junho e julho por conta da precipitação, principalmente em plantas depauperadas, com estresse, e em lavouras novas com alguns ponteiros. Além de baixo armazenamento de água no solo, principalmente na região do Cerrado Mineiro”, detalhou Teixeira.

Previsões

Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima

Depois, o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, apresentou uma palestra sobre as previsões do clima para os próximos meses nas diversas regiões cafeeiras do Brasil. Assim, ele alertou sobre a tendência da formação de um El Niño, fenômeno climático que pode elevar as temperaturas durante a próxima estação, causando interferências na lavoura cafeeira.

De acordo com Marco Antonio, apesar da formação, está longe de ser um Super El Niño. Ele acrescenta que o fenômeno causa o aquecimento das águas do Pacífico, trazendo chuvas mais recorrentes para as áreas de café e uma tendência das chuvas pararem mais cedo.

“Estamos partindo para um El Niño, mas está longe de ser um Super El Niño, pelo menos neste segundo semestre de 2023. Para nós, em São Paulo, Sul de Minas Gerais, Norte do Paraná, até parte do Mato Grosso do Sul, o El Niño interfere mais nas zonas de transição, que seriam na primavera e no outono, formando corredores de umidade que interferem na produção de café. Por conta disso, o verão deve ser mais quente e mais chuvoso, trazendo preocupações, como doenças”, alertou.

Anomalia nas temperaturas

Com o auxílio de gráficos, entretanto, o agrometeorologista explicou que, na região mais costeira do Oceano Pacífico, que banha toda a faixa litorânea da América do Sul, está extremamente quente. Assim, apresentando uma anomalia das temperaturas das águas do oceano. De acordo com ele, é o que deixa as chuvas mais recorrentes nas regiões de atuação da Cooxupé, chovendo quase que mensalmente. 

“Em agosto teremos chuvas e isso me traz bastante preocupação, por conta da florada. Teremos um excesso de dias chuvosos nas áreas da cooperativa, com setembro voltando a chover bem, tudo isso por conta do aumento de temperatura das águas do Pacífico. E, nesse processo de aquecimento do Pacífico, os próximos meses serão diferentes do que foram os últimos 36 meses. Para a cafeicultura, isso traz falta de estresse hídrico; temperaturas mais altas, ou seja, estresse térmico; aumento da evapotranspiração; e uma primavera extremamente chuvosa. No entanto, quando verificamos principalmente o mês de novembro, não descartamos a possibilidade de pequenos veranicos. É quando tem água no solo, não tem déficit hídrico, mas tem temperaturas altas. Não traz problemas hídricos para o cafeeiro, mas traz problemas térmicos”, argumentou.

Desafios da cafeicultura moderna

José Donizeti Alves, professor de Fisiologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Por fim, a última apresentação foi do professor de Fisiologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), José Donizeti Alves. Ou seja, o especialista fez uma palestra sobre como as condições meteorológicas de agosto de 2021 a abril de 2023 afetaram a safra cafeeira que está sendo colhida neste ano.

“As adversidades climáticas no mundo estão mudando a fenologia das plantas. As frequentes mudanças climáticas interferem no ciclo fenológico do café arábica, trazendo consequências em médio e longo prazo. É cada vez mais comum em nossas lavouras esses sete ‘cavaleiros do apocalipse’: calor escaldante, seca severa, chuva torrencial, nuvens altas, granizo frequente, frio fora de época e geada abrangente, que interferem no cafeeiro, jogando a produção para baixo. Ou seja, o clima interage com os cafeeiros, modulando a produção. Por isso, precisamos estar alertas”, recomendou o professor.

Em conclusão, para ele, o principal desafio da cafeicultura moderna é alcançar a maior produtividade possível, mesmo sob condições ambientais extremamente desfavoráveis.