Setor agradece por recurso do Plano Safra, mas critica juro alto
As taxas de juros, de até 12,5% ao ano, foram alvo de críticas de associações do setor agrícola
O aumento de quase 27% na oferta de recursos no Plano Safra 2023/24 foi bem visto pelo setor agrícola. Porém, as taxas de juros de até 12,5% ao ano são consideradas elevadas e foram alvo de críticas de associações do setor. Ou seja, a reportagem do Valor mostrou que o setor critica o juro alto.
Além disso, mesmo com um anúncio avaliado como “robusto”, não se descarta a hipótese de que, no ano que vem, as linhas de crédito voltem a se esgotar. Como ocorreu em 2022/23.
“Os recursos vieram 26% maiores para custeio e 28% para investimento, aumentaram bastante. Com relação aos juros, realmente, quanto maior o juro, mais difícil fica o planejamento”, disse Pedro Estevão, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Juro alto
Ao Valor, pois, ele ressaltou que a taxa de 12,5% para o programa destinado à compra de máquinas e implementos agrícolas Moderfrota “ainda é um juro caro”.
Em contrapartida, Estevão admitiu que o governo federal não contava com muitas alternativas para baixar as tarifas. Em um ambiente, afinal, em que a taxa básica de juros encontra-se elevada. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano.
“Se diminui o juro, aumenta a necessidade de recurso para subvenção. E, nesse caso, não seria possível aumentar o volume total do Plano nesta proporção”, afirmou. “Então, é melhor termos um Plano maior, mesmo que a um custo mais caro”, acrescentou o dirigente.
Esgotamento de recursos
Apesar de o Plano Safra empresarial ter a previsão total de R$ 364,22 bilhões, sendo R$ 9,49 bilhões para o Moderfrota e outros R$ 2,37 bilhões para compra de máquinas via Pronamp (para os médios produtores), Estevão acredita que ainda há risco de esgotamento dos recursos antes do fim do plano. Como aconteceu nas últimas temporadas, dada a vasta demanda do setor. Porém, para ele, esse risco pode vir somente em 2024.
José Mário Schreiner, vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmou, em comunicado, que as propostas apresentadas pela entidade para o Plano Safra foram contempladas no anúncio.
Porém, disse que as taxas de juros “poderiam ser melhores”. Apesar disso, ele considera que o mais importante é ter o recurso garantido. “O grande desafio é ver o recurso chegar de forma contínua. Sem ruptura e sem falhas no meio do caminho”, disse.
Cadastro Ambiental Rural
De acordo com Schreiner, a CNA discorda da proposta do Plano Safra de reduzir em 0,5 ponto percentual os juros dos financiamentos de custeio para produtores que adotam práticas sustentáveis. Ou que já tiverem o Cadastro Ambiental Rural (CAR) analisado.
“Apenas 20% dos produtores no Brasil tiveram o CAR analisado. Análise do CAR é de responsabilidade dos governos federal e estaduais, não é culpa do produtor. Portanto, não podemos concordar com um critério como esse para se ter acesso a uma política pública”, afirmou.
Plano robusto
De antemão, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) classificou o plano como “robusto”.
“Isso vai dar um incremento bastante grande à indústria de máquinas, que nos diz respeito mais diretamente. Mas, também, para todos os setores que participam do agro”, disse Gino Paulucci Júnior, presidente do Conselho Administrativo da entidade.
Já o vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Arnaldo Jardim (CD-SP), destacou os recursos que o governo anunciou para armazenagem da produção agrícola no país. E comemorou as iniciativas a favor da sustentabilidade.
“Concordamos que destacar e premiar os produtores com práticas ambientais é muito importante”, disse, em nota.