ONU mostra preocupação com os efeitos da La Niña

ONU mostra preocupação com os efeitos da La Niña

Entidade acredita que seguidos episódios do fenômeno devem agravar os eventos extremos, como chuva e seca

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A agência meteorológica da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que é alta a probabilidade, desde já, de que a La Niña se prolongue até novembro deste ano.

Dessa forma, caso se confirme, será a primeira vez neste século que o mundo terá um “episódio triplo” da La Niña, conforme a BBC News.

Episódio triplo

Antes de mais nada, o atual fenômeno climático, que influencia na temperatura das águas do Pacífico, teve início em setembro de 2020.

E, caso ele dure até o final do ano, igualmente, terá atingido três invernos consecutivos na parte norte do globo, razão pela qual é considerado um “episódio triplo”.

A agência meteorológica da ONU estima, ainda, que há 55% de chances de que a La Niña perdure e continue até fevereiro de 2023.

O que é a La Niña, afinal?

Os fenômenos La Niña e El Niño são, basicamente, fases opostas do mesmo padrão climático, analogamente, conhecido entre os cientistas como El Niño-Oscilação Sul (Enso).

O Enso, portanto, é um fenômeno natural em que a temperatura superficial no Oceano Pacífico, próximo da Linha do Equador, se altera. Desse modo, há consequências importantes para o clima ao redor do planeta, influenciando nas estações, na vida marinha e na produção rural, como um todo.

E o El Niño

Normalmente, é o El Niño que aparece primeiro. Assim, ele é a fase quente e ocorre quando as condições de pressão do ar mudam, enfraquecendo os ventos alísios (que seguem do leste para oeste) no Hemisfério Sul do Pacífico.

E essa corrente de vento, consequentemente, transporta as águas superficiais quentes da zona equatorial da costa da América do Sul em direção à Ásia. Isso faz com que as águas das profundezas, que são mais frias, subam em direção à superfície.

Porém, quando esses ventos enfraquecem ou sopram na direção contrária, eles carregam água quente do Sudeste Asiático para a América do Sul.

Fenômenos invertidos

A La Niña é justamente o oposto: quando os ventos alísios são muito fortes, a subida das águas frias profundas é acelerada e a temperatura do mar cai abaixo do normal. É por isso, afinal, que a La Niña é considerada a fase fria do fenômeno.

Geralmente, entre as duas fases, há um período conhecido como “zona neutra”, em que nenhum dos dois eventos são notadamente ativos, sem interferências na temperatura.

O climatologista Alfredo Alpio Costa, especialista em mudanças climáticas do Instituto Antártico Argentino, explica que o Enso é bem irregular. Frequentemente, os ciclos de início do El Niño e o término da La Niña podem demorar entre dois e sete anos.

Mas, esses fenômenos nem sempre se alternam de forma regular. Ao passo que, agora, apenas uma das fases se repete várias vezes, sem que o oposto apareça.

Todavia, o especialista reforça que tantos episódios seguidos chamam a atenção. “Faz muitas décadas que não vemos três Las Niñas consecutivos”.

As consequências

O climatologista destaca, como resultado, que o Enso gera impacto em grande parte do globo porque “a extensão do Oceano Pacífico equatorial é tão vasta que acaba afetando os padrões climáticos em escala global”.

Sobre a La Niña ele afirma, no entanto, que o evento provoca mudanças nas Américas, na Ásia, na África e na Oceania, “mas não tanto na Europa”.

Aqui para nós, no Brasil, os efeitos da La Niña são variados, a depender da região. Mas, no sul do Brasil, Argentina, Uruguai e na África, por exemplo, leva à estiagem. Já no nordeste do Brasil, norte da Austrália e no sudeste da Ásia ocorre o aumento das chuvas.

O secretário-geral da Organização Meteorológica da ONU, Petteri Taalas, destacou, ainda, outros resultados. “Infelizmente, os dados sobre a La Niña confirmam projeções climáticas que apontavam para o agravamento da devastadora seca no Chifre da África, cujas consequências afetarão milhões de pessoas”, escreve.

Atualmente, cerca de 18 milhões de indivíduos enfrentam fome severa como resultado da pior seca da região em 40 anos prejudicando, em especial, as crianças e agravando a subnutrição.

Mudança climática

Em nota, a ONU esclarece que o Enso não é causado pelas mudanças climáticas contemporâneas. “Trata-se de um fenômeno natural recorrente que vem acontecendo há milhares de anos”.

No entanto, a agência internacional destaca que, cada vez mais, ganha coro a ideia de que El Niño e La Niña podem se tornar mais intensos.

Por fim, o relatório internacional avalia que “as mudanças climáticas provavelmente afetarão o El Niño e a La Niña, em termos de eventos extremos”.  E, em suma, pesquisas adicionais ajudarão a entender o impacto da atividade humana em relação ao clima.


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