Pesquisas podem ajudar a melhorar produção e eficiência de fertilizantes
Estudos da Universidade Federal de Viçosa trazem soluções para produtores rurais diante da crise da oferta do produto
O Departamento de Solos (DPS), da Universidade Federal de Viçosa, realizou pesquisas que podem ajudar os produtores rurais na melhora da produção e eficiência de fertilizantes. Isto porque o produto está com a oferta em crise devido à guerra entre Ucrânia e Rússia.
Além de técnicas para uso eficiente de adubos em diversas culturas, o DPS desenvolve pesquisas. Para, assim, viabilizar o uso de fontes alternativas de potássio e produção de novos fertilizantes com alta tecnologia.
Outra pesquisa mostra que, na região das Matas de Minas, os produtores de café poderão até mesmo garantir a próxima safra sem adubar os plantios.
Entenda a crise
De acordo com oprofessor Reinaldo Cantarutti (DPS), embora o Brasil seja uma potência mundial na produção e exportação de alimentos, os solos são pobres em nutrientes.
Por isso, a adubação é fundamental para garantir produtividade. O Brasil importa 80% dos 40 milhões de toneladas de adubos que consome a cada ano. Os dados são da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
De acordo com a Universidade, a fórmula mais comum de fertilizantes, o NPK, é formada por nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). Combinados em variadas proporções.
No entanto, a produção dos adubos depende muito da importação dos fertilizantes simples. Principalmente de potássio, cujas principais minas estão justamente na Rússia, Belarus e Ucrânia.
“Quase a metade de todo o potássio que usamos vem destas áreas de conflito mundial. Outra parte vem do Canadá, mas a demanda será muito grande a curto prazo para termos um só fornecedor”, afirma Cantarutti.
As fontes de NPK no Brasil
Segundo a UFV, no caso dos adubos nitrogenados, pesquisas realizadas no Brasil já reduziram muito a dependência externa. O país é, pois, referência em uso eficiente de bactérias fixadoras de nitrogênio em leguminosas, como a soja.
Para outras culturas, como o milho e o algodão, no entanto, o nutriente também vem, em grande parte dos países em conflito.
Há alguns anos, a equipe do professor Cantarutti desenvolve pesquisas que focam soluções tecnológicas para a ureia. Visando, assim, reduzir perdas de amônia na fabricação dos nitrogenados.
Ainda assim, o Brasil depende da importação de gás natural, necessário ao processo de produção. Uma das soluções encontradas pelos pesquisadores foi recuperar a amônia volatilizada de resíduos animais, encontrada em camas de frango. O processo já está em fase de escalonamento para ajustá-lo à produção industrial.
No caso do fósforo, o Brasil importa atualmente cerca de 60% do que utiliza. Mas, segundo os especialistas da UFV, há novas reservas de apatitas – a fonte para o nutriente – que podem ser exploradas para reduzir a dependência da importação.
“Antes de mais nada é preciso dizer que a autossuficiência em fertilizantes no Brasil é uma ilusão. O que podemos fazer é reduzir a dependência”, lembra Edson Mattiello, professor do DPS e especialista em fertilidade do solo e fertilizantes.
Segundo os especialistas, o maior problema para o Brasil é o potássio. A importação do KCl, o principal fertilizante potássico, chega a 96% em relação ao que a agricultura consome. Metade disso vem justamente da Rússia e Belarus. O restante vem do Canadá e Israel e este é o nutriente que mais preocupa os produtores para a próxima safra.
Pó de rocha pode ser uma alternativa viável?
Ainda de acordo com os especialistas, existem fontes alternativas de potássio, como rochas contendo micas e feldspatos. Mas, a quantidade de nutrientes disponíveis nelas também é muito pequena, comparada às fontes tradicionais. E elas ainda apresentam baixa eficiência agronômica.
Algumas fábricas, no entanto, costumam triturar essas rochas, dando a elas o nome “pó de rocha ou remineralizadores”. Edson Mattiello explica que a solubilidade delas é muito baixa. Ou seja, mesmo que seja finamente moído, o potássio vai precisar de muito tempo para ser liberado e estar disponível para as plantas.
Ainda para ele, os remineralizadores podem ser viáveis para culturas de crescimento lento como as pastagens, por exemplo.
No caso das anuais, como a soja e o milho, ou mesmo o café, a iniciativa seria interessante apenas para solos que já têm fertilidade construíd. Ou para substituição parcial da adubação com potássio.
Entretanto, ele ressalta que muitas rochas, com baixa concentração de nutrientes, não devem ser substitutas dos fertilizantes. Pois a quantidade de nutrientes liberados no solo seria insuficiente às demandas das culturas e levaria ao progressivo esgotamento da reserva disponível do solo.
Uma possível solução vinda da UFV
A equipe do Departamento de Solos tem várias pesquisas e contribuições para produtores com a utilização de outras fontes alternativas de potássio que são viáveis. Mas, apenas para usos regionais.
Entre elas, rochas mais ricas em potássio e outros nutrientes. Como, por exemplo, o verdete, fonolito e kamafugito, e resíduos orgânicos e agroindustriais, como cascas de café, por exemplo. “Toda fonte é importante e precisa ser considerada, mas, neste caso, o reaproveitamento de materiais reutilizados só é viável se estiverem próximos aos futuros plantios”, afirma Cantarutti.
A equipe coordenada pelo professor Mattiello já está patenteando um produto que aumenta a solubilização do potássio em pó de rochas. Para isso, usaram uma bactéria que produz o ácido sulfúrico biogênico, capaz de solubilizar o mineral para liberação do potássio.
Também em parceria com a Embrapa, os pesquisadores do Departamento de Solos têm pesquisado o uso de nanocompostos de carbono em fertilizantes minerais.
“Temos uma grande oportunidade de melhorar a matriz de fertilizantes minerais, produzindo formulações mais concentradas em nutrientes, estáveis e de maior eficiência agronômica”, diz Mattiello.
Com isso, a indústria poderá produzir fertilizantes mais baratos, de maior valor agregado, e gerar enormes economias com transporte e armazenagem.
Café sem fertilizante este ano
Outro trabalho, desta vez desenvolvido pelo pesquisador Gustavo Rosa, dá uma boa notícia para os produtores de café na região das Matas de Minas.
Um levantamento feito com 466 propriedades mostrou que 60% das lavouras de café estavam com o teor de potássio no solo em condições boas ou elevadas e 30% com teor muito elevado.
Isso se deve a aplicações recorrentes de fertilizantes com potássio. Neste caso, a recomendação é reduzir – ou até não fazer – a adubação. “O produtor deve, portanto, trocar o fertilizante e adequar as adubações, economizando dinheiro. O excesso de potássio no solo pode, inclusive, reduzir a produtividade e a qualidade da bebida do café”, diz Gustavo.
O professor Mattiello conclui que a crise na importação dos adubos não deve ocorrer a curto prazo.
Reativar e ampliar a produção de adubos nitrogenados. Avançar nos estudos e na produção de fertilizantes alternativos de potássio que sejam mais eficientes. Reaproveitar resíduos agroindustriais e conhecer a fertilidade do solo para realizar o manejo adequado e uso racional de fertilizantes. São, por fim, caminhos que país deve seguir para enfrentar a crise atual.