Tecnologia da Embrapa avalia pegada de carbono na lavoura

Tecnologia da Embrapa avalia pegada de carbono na lavoura

Desenvolvida em parceria com a agfintech Agrorobótica, a Plataforma de Inteligência Artificial (IA) AGLIBS habilita certificação internacional

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Pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a agfintech Agrorobótica, desenvolveram uma nova tecnologia. A inovação integra diferentes softwares e sensores avançados que permitem a digitalização do solo e das atividades agrícolas. O objetivo é avaliar a pegada de carbono na lavoura.

Antes de mais nada, a inovação é chamada de Plataforma de Inteligência Artificial (IA) AGLIBS. Ela viabiliza o acesso à agricultura de precisão e à comercialização de crédito de carbono no mercado voluntário internacional.

Além disso, permite financeiramente medir, reportar, verificar e comercializar (MRVC) o carbono na agricultura. Ao mesmo tempo em que faz a gestão da fertilidade do solo e nutrição das plantas, para o gerenciamento de indicadores de sustentabilidade e produtividade agrícola.

Lançamento

O lançamento da plataforma IA AGLIBS aconteceu no aniversário de 50 anos da Embrapa, comemorado em 26 de abril, em Brasília (DF).

Técnica da Nasa

Primordialmente, a inovação foi desenvolvida alinhada a critérios científicos aceitos internacionalmente e tem como base a tecnologia LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy).

Nesse sentido, é a mesma técnica que a agência espacial norte-americana (Nasa) embarcou nos robôs para avaliação do solo do Planeta Marte.

Solos

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Débora Milori, a LIBS é uma técnica espectro analítica rápida, reprodutível e limpa para avaliar o carbono na lavoura. A especialista coordena o Laboratório Nacional de Agrofotônica (Lanaf).

“Ela usa pulsos laser de alta energia para criar um microplasma na superfície da amostra. E, assim, determinar a sua composição química. Por ser uma técnica analítica direta, ela pode ser aplicada a uma grande variedade de amostras em diferentes estados físicos da matéria”, explica.

Segundo ela, na agricultura, o LIBS permite analisar a composição química de solos sem a necessidade de um laborioso preparo de amostras e qualquer geração de resíduos químicos.

Portanto, o uso do LIBS na Agricultura e Meio Ambiente é tão inovador e sustentável.

Capacidade ampliada

De antemão, o CEO da Agrorobótica, Fábio Angelis, informa que a tecnologia faz análises de 22 parâmetros do solo. E que seus hardware e software estão em fase de patenteamento.

Entre os parâmetros medidos estão: carbono quantitativo e qualitativo dos solos, textura (teores de areia, silte e argila), estoque de carbono no solo (t/ha). Além de densidade do solo, pH, macro e micronutriente. Tudo de forma rápida, econômica e precisa, sem gerar resíduos químicos.

“É diferente dos métodos de análise de solos convencionais que utilizam vários reagentes químicos para extrair esses nutrientes do solo e usam mais de 10 métodos de medidas diferentes para obter a mesma informação que o LIBS mensura com um único tiro laser”, compara Angelis.

Análises

Equipe da Embrapa faz coleta de solo no campo para análises

Primordialmente, a nova tecnologia é capaz de analisar mais de 1,2 mil amostras de solo diariamente. Enquanto laboratórios que aplicam as metodologias tradicionais realizam em média de 800 a 900 amostras mensalmente.

Nesse sentido, durante a fase experimental, a plataforma de IA AGLIBS analisou amostras de solo envolvendo culturas de café, soja, milho, algodão. Além de pasto degradado, sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) de 75 pequenos, médios e grandes produtores rurais.

No total, foram mapeados 600 mil hectares, de 17 estados brasileiros. Dentro dessa atuação da Agrorobótica, foi possível construir um banco de solos espectral com mais de 300 mil espectros de solos brasileiros de todos os biomas.

Como vai funcionar

A princípio, a empresa aposta em um modelo de prestação de serviços diferenciado para a nova tecnologia. A ideia é oferecer consultoria aos agricultores que fazem adesão ao programa de carbono.

De acordo com Angelis, os serviços têm início com o envio do Cadastro Ambiental Rural (CAR) da propriedade sobre o qual todo o planejamento amostral estratégico do projeto é realizado.

Ou seja, esse trabalho leva em consideração múltiplas informações para uma amostragem inteligente representativa.

Monetização

Em outras palavras, Angelis lembra que a plataforma está alinhada às orientações das metodologias da certificadora internacional VERRA. Isso permite a certificação do carbono na lavoura e da fertilidade no solo.

Por fim, o crédito de carbono será gerado e convertido em Unidades de Carbono Verificadas (VCU, sigla em inglês). Ele pode ser negociado no mercado voluntário internacional e prover uma monetização inovadora para o agricultor.

Carbono na lavoura

Em conclusão, o CEO da Agrorobótica estima que a plataforma de IA AGLIBS permitirá estabelecer incentivos econômicos e instrumentos de mercado aptos a remunerar agricultores que adotem sistemas sustentáveis de produção.

Enfim, ele acredita que o Brasil poderá abrir uma oportunidade de se consolidar como o maior mercado mundial de crédito de carbono até 2030. A movimentação prevista é de mais de US$ 100 bilhões. Isso com a tecnologia auxiliando na construção desse mercado de carbono na lavoura brasileiro.

“Além disso, o programa de baixo carbono insere o agricultor para uma política de Governança Corporativa, Social e Ambiental (ESG, sigla em inglês) valorizando as commodities agrícolas”, conclui Angelis.